Transcendendo a idade: juventude empoderadora

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Na mídia, na moda e na música, estereótipos de idade não mais representam o mundo contemporâneo

por Julia Oliveira

Tavi Gevinson deixou todo mundo impressionado quando, aos 12 anos, criou um blog de moda super maduro e original. Gente de ponta lia o Style Rookie: de Anna Wintour a Karl Lagerfeld. Hoje, aos 19, ela é a big boss do site Rookie, que tem garotas adolescentes como público alvo. O teor dos textos pode surpreender quem está acostumado a uma visão mais limitada da adolescência. Relacionamentos, maquiagem e roupas figuram ao lado de assuntos não muito tradicionais neste tipo de publicação, como política, feminismo e filosofia.

Fotos de Petra Collins, fotógrafa de 22 anos que desde os 19 retrata o mundo teen feminino, elevando a estética cor-de-rosa e DIY a um status cool. É o jovem olhando para o jovem, com orgulho e verdade.
Fotos de Petra Collins, fotógrafa de 22 anos que desde os 19 retrata o mundo teen feminino, elevando a estética cor-de-rosa e DIY a um status cool. É o jovem olhando para o jovem, com orgulho e verdade.

O trabalho de Tavi provou que a criatividade da juventude merecia mais credibilidade e respeito. Seriedade e competência não são coisa de adulto. Energia e espontaneidade não são coisa de moleque. O cenário atual comprova isso: aos 17 anos Malala ganhou o prêmio Nobel por seu ativismo na educação de mulheres; no caminho inverso da mesma estrada, a octagenária Helen Van Winkle, mas conhecida em meios virtuais por Baddiewinkle, faz sucesso no com looks moderninhos. E, não, elas não são ponto fora da curva. Acostume-se: estereótipos de idade não representam o mundo contemporâneo.

Baddiewinkle no Instagram
Baddiewinkle no Instagram

Dê uma olhada na capa da Dazed & Confused de maio de 2015. Quem está lá é Maisie Williams, atriz de 17 anos, dando pitaco sobre as eleições presidenciais da Inglaterra.

“Querendo ou não, eu me tornei uma influência para as pessoas”, diz ela.

E é assim mesmo que as coisas estão funcionando. Justamente os “novatos inexperientes” têm sido os grandes mensageiros das novas consciências. Um tapa na cara do preconceito etário.

maisie williams

Os filhos do astro mainstream Will Smith, por exemplo, andam fazendo mais barulho que o pai. Barulho no bom sentido. Suas contas no e Instagram são recheadas de insights imaginativos e questionamentos às convenções sociais.

Jaden Smith, 16, cutuca os estereótipos de gênero ao postar fotos suas usando vestidos e saias, comuns em seu dia a dia. acompanha a legenda “Fui à TopShop comprar roupas de menina, quer dizer, roupas”.

Sua irmã Willow, 14, não fica atrás. Feminista declarada, já foi fotografada com uma camiseta com os dizeres “não sou uma esposinha”, além de endossar a discussão #freethenipple (em português, #liberteomamilo): “Quando o corpo da mulher começou a ser algo a se esconder?”, provocou a mocinha em um tweet.

free the nipple

Willow inclusive foi recentemente escolhida para, ao lado de Cher, ser a nova cara da campanha de Marc Jacobs.

“Beleza, estilo e talento não conhecem idade. São essas pessoas que emprestam sua criatividade, visão singular e voz para inspirar nosso time a criar e se expressar através da moda.”
— Marc Jacobs

Há aí uma mudança de valores. Adolescentes agora podem ser ícones não de beleza, mas de personalidade até mesmo para os mais velhos.

Willow e Cher: atitude não tem a ver com idade.
Willow e Cher: atitude não tem a ver com idade.

Outro exemplo disso é Natalie Westling. No ano passado, aos 17 anos, chamou atenção por participar de inúmeros desfiles na New York Fashion Week com um cabelo vermelho vibrante, quase neon. O statement desagradou vários estilistas — alguns até chegaram a dispensá-la. Nada que incomode Natalie, que se sente muito mais em casa sobre um skate que sobre uma passarela. Abertamente homossexual, a atitude desencanada e segura, 100% no bullshit, é inesperada de uma pessoa pública tão nova. Sua originalidade transcende e eleva seu trabalho como modelo a outro patamar. Em um vídeo para a revista i-D ela transmite bem essa essência ousada.

Finalmente, é claro que a música, uma das manifestações mais genuínas da sociedade, não poderia deixar de refletir esse cenário de morte da idade. Neste caso brotam exemplos de gente que quer influenciar sua geração e usa a Internet como arma de longo alcance para se fazer ouvida.

Jennifer, Mariana e Alice, integrantes do Pearls Negras, nem atingiram a maioridade, mas já são o orgulho do Vidigal, favela carioca em que vivem. Os raps com batidas marcantes, compostos por elas mesmas, entraram no radar de produtoras estrangeiras e da C&A, que usou a faixa “Pensando em você” em uma de suas propagandas. “Guerreira” é um hino de empoderamento: “mandando o meu rap, fazendo os trouxa correr, só com pensamento de luta para vencer.” Autoconfiança e estilo de sobra.

Ainda em território nacional, MC Brinquedo, famoso pela pouca idade e pelo conteúdo altamente erótico de suas músicas, acha importante dar um bom exemplo aos fãs novinhos como ele. Fora do funk, Brinquedo encoraja os estudos e documenta sua rotina escolar no Instagram. Na Jamaica, Wayne J, 12, faz esse incentivo na própria letra de suas canções, cujos temas passam desde educação até Scooby Doo e Ben 10.

Mc Brinquedo no Facebook: “Porque quem é malandrão de verdade estuda e pensa no futuro.”
Mc Brinquedo no Facebook: “Porque quem é malandrão de verdade estuda e pensa no futuro.”
Ter a Internet como habitat natural é a grande vantagem desta geração. O ambiente relativamente democrático e horizontal faz com que qualquer um possa ser ouvido, incluindo os adolescentes, que antes eram diminuídos e subestimados.

Trata-se de um canal aberto, esperando apenas uma mensagem — qualquer mensagem, de qualquer origem. E engana-se quem pensa que essa mensagem é sempre ligada a promoção pessoal. Por exemplo, Amandla Stenberg, atriz da franquia Jogos Vorazes, usa seu Tumblr para promover o ativismo negro e a visibilidade de suas causas. Um vídeo produzido por ela para um trabalho de escola ficou famoso pela clareza com que o tema da apropriação cultural é tratado.

Fato é que, de Tavi a MC Brinquedo, os adolescentes estão fazendo diferença porque mandam seu recado na Internet. Sim, eles correm o risco de passar despercebidos em meio à enxurrada de informações. Mas, assim como notícia ruim chega rápido, tudo que é bom demais não tarda a aparecer em nossas timelines. A juventude sabe que é melhor celebrar o ampliamento da capacidade de atingir pessoas que ficar resmungando sobre a superficialidade dos tempos modernos. Não subestime os novinhos.

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Seriedade e competência não são coisa de adulto. Energia e espontaneidade não são coisa de moleque. O cenário atual comprova isso: aos 17 anos Malala ganhou o prêmio Nobel por seu ativismo na educação de mulheres; no caminho inverso da mesma estrada, a octagenária Helen Van Winkle, mas conhecida em meios virtuais por Baddiewinkle, faz sucesso no Instagram com looks moderninhos. E, não, elas não são ponto fora da curva. Acostume-se: estereótipos de idade não representam o mundo contemporâneo.

Na mídia, na moda e na música, adolescentes aparecem não mais como símbolos de inexperiência, mas como ícones personalidade.

Ter a Internet como habitat natural é a grande vantagem desta geração. O ambiente relativamente democrático e horizontal faz com que qualquer um possa ser ouvido, incluindo os adolescentes, que antes eram diminuídos e subestimados. Trata-se de um canal aberto, esperando apenas uma mensagem — qualquer mensagem, de qualquer origem.

E engana-se quem pensa que essa mensagem é sempre ligada a promoção pessoal. Por exemplo, Amandla Stenberg, atriz da franquia Jogos Vorazes, usa seu Tumblr para promover o ativismo negro e a visibilidade de suas causas. Um vídeo produzido por ela para um trabalho de escola ficou famoso pela clareza com que o tema da apropriação cultural é tratado.

Fato é que, de Tavi Gevinson a MC Brinquedo, os adolescentes estão fazendo diferença porque mandam seu recado na Internet. Sim, eles correm o risco de passar despercebidos em meio à enxurrada de informações. Mas, assim como notícia ruim chega rápido, tudo que é bom demais não tarda a aparecer em nossas timelines. A juventude sabe que é melhor celebrar o ampliamento da capacidade de atingir pessoas que ficar resmungando sobre a superficialidade dos tempos modernos. Não subestime os novinhos.

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