Realidade mista: amálgama de tecnologias cria virtualidades reais

Playing Reality

Ao longo dos últimos anos, vivemos um crescimento exponencial do uso dos meios pelos quais interagimos — e imergimos — em ambientes digitais. O próximo passo dessa evolução pode nos levar a não mais diferenciar em qual destas múltiplas realidades estaremos vivendo.

Selfie e a politização do corpo feminino

TRANScenGENDER

A vulnerabilidade sugerida pelo “nu artístico”, que apresenta o feminino sob uma ótica masculina e castradora, opõe-se ao poder do “nude”, que desafia a norma e reforça o controle da mulher sobre sua própria imagem e sexualidade. Existe valor no selfie criado e compartilhado online. Agora, mais do que nunca, existe a oportunidade de construir a cultura visual do amanhã, sob uma nova perspectiva — a feminina.

Ídolos reinventados: influenciadores digitais e representatividade

Youth Mode

Ídolos mudam de geração para geração. Nesta, chegamos aos digital influencers, que são famosos, às vezes, apenas por ter um corpo bonito ou uma vida invejável. Porém a imagem esgota-se em si mesma, contaminando não só quem a adora, mas também quem a produz. Youtubers e Instagrammers ativistas despontam como novos ídolos, espalhando, além da imagem, mensagem.

Cinema como perpetuação da mentalidade consumista

Lowsumerism

Até onde vão as similaridades de um filme com uma peça de fast fashion? O excesso de títulos lançados e a rapidez do rodízio nas salas empurra os espectadores a não terem tempo suficiente sequer para digerir os significados da história, pois o próximo imperdível já entra em cartaz. Assistir, ou não, a um filme é um ato profundamente conectado com as emergências do mundo atual.

Feminismo na rede: arma de longo alcance

TRANScenGENDER

Fala-se muito sobre um tal “novo feminismo”, mas não é a primeira vez que este movimento passa por um boom midiático. Desta vez, sua grande aliada é a internet. Propício para a democracia e pluralidade de vozes, o ambiente digital faz com que a mensagem contra o sexismo ecoe da vanguarda até o mainstream, cada vez mais longe e com mais intensidade.

Por que comprar está voltando a ser um ato social

Lowsumerism

Comprar nunca foi tão fácil, mas as inovações que tanto facilitam nossa vida também acabam por nos deixar mais isolados. Nossos atos de compra e hábitos de consumo são testemunhas de que estamos mais solitários. A volta de hábitos de compra ligados a valores locais e tradicionais tornam-se uma forma de fortalecer o contato tête-à-tête que foi perdido com o advento dos meios digitais. Reestabelecer relações perdidas graças aos frágeis e impessoais laços digitais parece ser um comportamento emergente nos grandes centros urbanos.

Transcendendo a idade: juventude empoderadora

Youth Mode

Seriedade e competência não são coisa de adulto. Energia e espontaneidade não são coisa de moleque. Acostume-se: estereótipos de idade não representam o mundo contemporâneo. Na mídia, na moda e na música, adolescentes aparecem não mais como símbolos de inexperiência, mas como ícones personalidade.

Efemeridade como fuga da eterna memória digital

Short Life

No contexto de super-exposição da Internet, é crescente o contra-movimento que vê a impermanência como medida para proteger a privacidade. A informação com curto prazo de validade se torna uma poderosa ferramenta de comunicação, e seu valor é exatamente a evanescência. Quando tudo pode ser trackeado, camuflar-se passa a ser um desejo coletivo que torna valioso qualquer exercício de efemeridade.

A guerra contemporânea contra o estresse

Quiet Bliss

Em um mundo acostumado a operar em um ritmo inalcançável, produtos e serviços passam a ter o desafio de reduzir os excessos que cercam seus consumidores, reconhecendo o estresse como o inimigo invisível da vida moderna. O alívio vem em forma de breaks digitais e experiências que dão importância às pausas e ao alívio dos espaços revitalizantes.

As fronteiras da linguagem minimalista

Short Life

Vivemos numa lógica comunicacional que carrega a compressão do máximo de significado em um mínimo de representação simbólica. A comunicação minimalista dos emojis propõe um novo paradigma linguístico. Em um mundo de excessos, comunicar muita coisa não é comunicar em quantidade. A fragmentação da linguagem hoje é tão profunda que uma única imagem pode ser muito mais precisa do que um parágrafo inteiro.

Silêncio em tempos de excesso

Quiet Bliss

A quietude tem sido vista como medida essencial para resgatar o equilíbrio e a criatividade pessoal, dando novo status ao silêncio. A valorização da meditação na cultura de massa é uma das evidências dessa corrente, que naturalmente passa a influenciar as relações de consumo. O conceito de No Noise Branding prova que, muita vezes, silenciar comunica mais do que falar.

Finitude como forma de libertação

Short Life

A lógica da infinitude presente na Internet mudou a maneira como a informação é consumida. Há uma quantidade radical de conteúdo ao redor, independente de sua relevância e utilidade. Ver tantas opções escancaradas na sua frente é desesperador. Assim, um esquecimento generalizado coletivo clama por precisão e qualidade da informação. Chegar ao fim de algo pode ser mais libertador do que a infinitude.

Passarelas da não-linearidade

Unfashion

A glorificação das fashion weeks como lançadoras absolutas de tendências cai por terra quando todos parecem beber da mesma fonte de inspiração. A rua evidencia como está desgastada a ideia de que uma tendência vem sempre de cima para baixo — da elite para o popular. Hoje, as inspirações transitam fluidas e podem estar em qualquer lugar.

Inacessibilidade como expressão de luxo

Quiet Bliss

Foco e contemplação são características pouco presentes nessa geração, que cresceu em um contexto multitasking e tem como comportamento vigente a ausência de linearidade: um reflexo da Internet. Porém, uma crescente minoria se convence de que criatividade e atenção são irmãs siamesas. Hoje, observa-se um contra-movimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida com mais memórias, saúde e dedicação.

A ascensão dos poking games

Smart Trolling

A desinibição aliada à tecnologia mobile causou a ascenção dos apps sexuais. O ritmo rápido da paquera fez da busca por um parceiro algo parecido com uma ida ao supermercado. Essas brincadeiras compõem uma nova linguagem de conquista, abrindo brechas nas quais a trollagem se infiltra, tornando imperceptíveis as nuances que diferenciam o que é piada e o que é sedução.

Auto-trolling como forma de blindagem

Smart Trolling

Seja em filtros de Instagram ou em status editados nas redes sociais, vivemos em um mundo onde a imagem pessoal é lapidada com tamanho esmero que pouco sobra de sua essência verdadeira. Quando todos estão habituados a apresentar a melhor versão de si, reconhecer a imperfeição passa a ser valorizado como prova de autenticidade e auto-confiança. A auto-trollagem é uma forma libertadora de desmistificar o jogo de imagens imaculadas que circulam nas timelines da vida.

Sobreposição de realidades

Playing Reality

O princípio comportamental e estético que caracteriza os tempos digitais se chama Databending. Trata-se da sobreposição de camadas de dados que altera significativamente a forma como a realidade é vista e manipulada. Esse movimento provoca a refletir sobre como a mistura de linguagens e universos gera um mundo mais interessante, exatamente porque ele se encontra na fissura entre o real e o imaginário.

A arte sutil do troll publicitário

Smart Trolling

Há alguns anos, marketeiros vem tentando institucionalizar o meme de modo que ele possa ser gerado em agências de publicidade. Viralizar não é tão fácil, mas também não é impossível. Práticas recentes apontam caminhos em que o troll é usado como comunicação, funcionando como um viral cirurgicamente executado. O troll efetivo é aquele que não menospreza a inteligência do público.

A ficção como a verdadeira realidade

Playing Reality

Passa a existir um blur entre o que é real e o que é imaginário quando narrativas fictícias podem propor realidades tão convincentes que são capazes de diluir as barreiras entre o verdadeiro e a fantasia. A ficção sublinha o que há de mais importante e, muitas vezes, ressalta as reações humanas em situações e contextos considerados extremos.

O vazio em cada curtida

Quiet Bliss

Quando compartilhamos uma foto, um link ou um pensamento nas redes sociais, apresentamos fragmentos daquilo que desejamos que nos defina: existe a necessidade de aceitação. Hoje lidamos com quatro grandes esferas emocionais: a exaltação do ego, a necessidade de auto-afirmação, a sensação de pertencimento e a sensação de obrigação. Com isso, vários sentimentos são desenvolvidos de maneira única e desproporcional: frustração, orgulho, inveja, raiva, arrogância, ansiedade, alegria, curiosidade, etc.