Finitude como forma de libertação
A lógica da infinitude presente na Internet mudou a maneira como a informação é consumida. Timelines se autoatualizam enquanto novos conteúdos são constantemente gerados. A sensação de dominar um assunto torna-se rara quando nenhum deles tem fim. Como saber quando se chega ao final? Zerar a Internet é uma utopia homérica.
No Tumblr, o único botão que existe é “back to top”. A rolagem infinita tem o poder de sugar ao buraco negro quem estiver desatento aos perigos da totalidade: ela não passa de uma ilusão.
O jornal — dado como morto por muitos futurólogos — tem a seu favor o senso de realização que o leitor recebe ao terminar de folheá-lo. Em um contexto cansativo de overload de informações e múltiplas fontes, é gratificante perceber que o fim foi alcançado.
Enxergar o ponto final passa a ser essencial quando se pensa na enorme quantidade de informações disponíveis. Há uma quantidade radical de conteúdo ao redor, independente de sua relevância e utilidade.
Todo mundo já perdeu mais tempo do que queria tentando escolher um filme no Netflix. Ver todas as opções escancaradas na sua frente é desesperador.
Para que ninguém se sufoque em meio à massa amorfa de conteúdo que esses serviços oferecem, o MUBI é uma alternativa. A plataforma de filmes alia acessibilidade à curadoria, oferecendo um cardápio de somente 30 filmes, que ficarão disponíveis durante 30 dias. Cada vez que um filme expira, um novo é adicionado.
Porém, o grande trunfo do Netflix — e a principal mudança que ele causou na maneira como vídeos são consumidos — é a possibilidade de binge watching. O termo se refere ao hábito de assistir a vários episódios da mesma série, um atrás do outro. Quem acompanha qualquer seriado certamente já caiu nessa tentação, facilitada pelo Netflix que libera todos os episódios no mesmo dia.
Hemlock Grove, por exemplo, foi pensado pelos diretores como um filme de 13 horas de duração, e não como uma série de 13 episódios. Quando é vislumbrado no horizonte, o fim não demora tanto para chegar.
O futuro nas cartas
Enquanto o problema dos newsfeeds e timelines está justamente no scrolling infinito, plataformas inovadoras tem adotado o formato “card-swiping” como solução para um consumo de conteúdo menos aflito. A pilha de cartas do Tinder, apesar de ser infinita, exige que somente uma receba atenção por vez.
Mas o Tinder . Jelly é um aplicativo de perguntas e respostas integrado ao ou ao Facebook que usa o card-swiping para tornar esse processo de questionamento mais ágil. No Weotta existem cartas empilhadas com dicas de eventos e atividades culturais. E no , as informações de cada perfil também são exibidas em cartas.
Suficiente é suficiente
A máxima da Bauhaus “menos é mais” foi antecipada por William de Occam quando ele disse:
“o que pode ser explicado por menos princípios, é desnecessariamente explicado por mais.”
Quando todas as informações estão em qualquer lugar, o que deve ser internalizado? Um esquecimento generalizado coletivo clama por precisão e qualidade da informação.
O registro de um minguado segundo do dia é muito mais emocionante do que mais uma foto da Monalisa, a imagem mais reproduzida do mundo. Cesar Kuriyama, ao completar 30 anos, pediu demissão do seu emprego no mercado publicitário e partiu para um período sabático. Durante esse tempo, começou o projeto 1 Second Every Day, passando a filmar um segundo de cada dia da sua vida. Como resultado, Kuriyama uniu estes segundos em um vídeo que conta seus principais momentos durante o ano seguinte em que iniciou as filmagens. O vídeo viralizou e a ideia se tornou um app que possibilita que todos possam fazer o mesmo.
The 100 Thing Challenge é um projeto e livro no qual Dave Bruno relata como livrar-se de quase todos seus bens materiais ressignificou sua vida e o fez recuperar sua alma. Sua ideia é ajudar as pessoas a se livrarem dos males consumistas ao reduzir suas posses a no máximo cem objetos. Você já contou as coisas que são suas ao seu redor?
Curadoria de informação não é mais um serviço do futuro: é uma demanda contemporânea. Na recém-lançada rede social This, cada usuário tem direito a compartilhar apenas um link por dia. Pinçar aquilo que realmente vale a pena dividir é uma maneira de reduzir o excesso de ruído virtual.
“Todos gostam de receber recomendações das pessoas em quem confia, mas ninguém dá conta de absorver tudo. Estamos o tempo todo muito distraídos ou ocupados com outros assuntos.”
— Andrew Golis, criador do This
Experiências e conteúdos evanescentes tornam-se recursos preventivos do esquecimento e um lembrete de que a condição humana é finita. Chegar ao fim de algo pode ser mais libertador do que a infinitude.
A lógica da infinitude presente na Internet mudou a maneira como a informação é consumida. Timelines se autoatualizam enquanto novos conteúdos são constantemente gerados. A sensação de dominar um assunto torna-se rara quando nenhum deles tem fim. A rolagem infinita tem o poder de sugar ao buraco negro quem estiver desatento aos perigos da totalidade: ela não passa de uma ilusão.
Enxergar o ponto final passa a ser essencial quando se pensa na enorme quantidade de informações disponíveis. Há uma quantidade radical de conteúdo ao redor, independente de sua relevância e utilidade. Ver todas as opções escancaradas na sua frente é desesperador.
Quando todas as informações estão em qualquer lugar, o que deve ser internalizado? Um esquecimento generalizado coletivo clama por precisão e qualidade da informação. Curadoria de informação não é mais um serviço do futuro: é uma demanda contemporânea. Pinçar aquilo que realmente vale a pena dividir é uma maneira de reduzir o excesso de ruído virtual.
Experiências e conteúdos evanescentes tornam-se recursos preventivos do esquecimento e um lembrete de que a condição humana é finita. Chegar ao fim de algo pode ser mais libertador do que a infinitude.
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