Wearables: tecnologia sensível à moda
Viver sem tecnologia tonou-se impensável. Ainda assim, é unânime a observação de que devemos nos reconectar com a realidade para viver o presente. De fato, hoje lidamos com uma quantidade de dados que não conseguimos processar. Neste contexto em que o contato com a tecnologia é invasivo e permanente, parece certo buscar uma vida menos congestionada. A solução pode ser confiar nos nossos instintos, na habilidade de filtrar todas as informações para criar uma voz pessoal e uma experiência subjetiva. Sugerindo uma alternativa aos dispositivos tecnológicos comuns, os wearables têm potencial para serem grandes, pois misturam estilo e funcionalidades moldadas pelas emoções.
Os wearables costumavam ser um nicho específico de mercado, visando atingir a comunidade geek do Silicone Valley. Mas, finalmente, há chances de que eles se tornem um sucesso também no mainstream. O principal desafio para este tipo de tecnologia é evitar ser mais uma tela trazendo dados que as pessoas não sabem como usar — o que está acontecendo no momento com rastreadores fitness.
A metrificação está em todos os cantos, fato que gera um comportamento opressivo e restringe a intuição. Observar os updates de interações nas redes sociais pode ser uma prisão. Para que tenhamos uma experiência online mais tranquila, existem iniciativas que tentam injetar humanidade na tecnologia. Exemplo disso é o Demetricator, um navegador que faz com que os números do Facebook desapareçam, removendo likes ou comentários para que se possa fazer um uso mais relaxado da rede social.
Por serem dispositivos que funcionam em conjunto com um smartphone, os wearables acompanham nosso dia a dia e podem conduzir a um uso mais inteligente e personalizado da tecnologia. O Apple Watch, por exemplo, não foi feito para ser apenas mais uma telinha que nos distrai o tempo todo. Buscando o essencial e repudiando o superficial, o relógio surfa no sucesso progressivo dos “monoprodutos”, fenômeno que foca na produção de um único produto que concentra alta qualidade e diversas funcionalidades. Através de notificações bem enxutas, ele oferece a possibilidade de uma desconexão momentânea do iPhone.
Este sistema de comunicação condensada torna as informações mais providas de significado. Pode-se observar um conceito semelhante no Light Phone, da Light, cujo slogan “your phone away from phone” (em português, “seu telefone longe do telefone”) é a definição de um destes novos dispositivos de companhia filtrando as informações que vêm do smartphone. O Light Phone foi projetado para ter o menor design possível, apto somente para receber ligações específicas, o que proporciona mais liberdade.
A tecnologia encontra a moda
À medida que a tecnologia se lança em novas ambições para ser mais intuitiva, há uma movimentação natural em direção à moda. Trazendo calor humano para a tecnologia, o anel Moodmetric é uma versão aprimorada do anel do humor, melhor dizendo, um “smart ring” com um trackeador de humor. Ele permite que se veja a “voltagem emocional” ou que se possa saber o “poder emocional” de uma pessoa. Embora a utilidade real deste anel possa ser questionável, eles são esteticamente agradáveis e parecem divertidos de se usar.
Smart rings são interessantes porque, para que os wearables sejam um sucesso, não basta que eles façam mudanças somente na tecnologia. Mais que objeto de necessidade, eles também precisam ser objeto de desejo, exatamente como um produto de moda. Ninguém gosta de ser lembrado que é dependente da tecnologia. Melhor é acreditar que se trata de algo que se escolheu usar.
Wearables precisam ser itens que as pessoas realmente querem, para além do que eles são capazes de fazer. Afinal, quem se preocupa com moda não vai usar qualquer coisa, não importa o quão high-tech essa coisa seja. A Apple mostrou que entendeu bem esse recado ao fazer o lançamento do Apple Watch coincidir com as semanas de moda ao redor do mundo, além de expor o produto na vitrine da boutique Colette e na capa da Vogue China.
A moda encontra a tecnologia
Por outro lado, a moda também está em um momento de grande mudança. Marcas mais técnicas e de sportswear, como Adidas e Nike, estão prosperando — e parece que é justamente porque elas não são marcas de moda. Em um mundo pós-tudo, a indústria não consegue acompanhar o ritmo frenético das tendências de moda. Como diz Li Edelkoort, pesquisadora de tendências, em seu recente manifesto, “Anti-Fashion”:
“A moda está morta, vida longa às roupas.”
Com a moda ficando mais técnica e a tecnologia tentando seguir a moda, pode-se argumentar que estas áreas estão se valendo de estratégias opostas. Embora seja impossível prever como a relação entre tecnologia e moda vai se desenvolver, é certo que as duas se encontrarão. Na verdade, já se encontraram. A união entre a técnica e o mercado de luxo da moda concretizou-se, entre outros momentos, no desfile de Diane Von Furstenberg, em que as modelos usaram o Google Glass, e na confecção de uma edição de ouro do Apple Watch.
Vale apontar que o lançamento do Google Glass foi diferente do Apple Watch no sentido que não convenceu o consumidor logo de cara. Alguns desacreditam no projeto, uma vez que ele deixa o usuário ainda mais imerso em sua vida digital, além de ser esteticamente inviável. É importante lembrar, porém, que o Google Glass ainda está em fase de testes e adaptações, e, em tese, é uma tecnologia promissora. Pode ser cedo para apontar uma opinião mais certeira sobre o gadget.
A tecnologia precisa da moda para evoluir e propor uma experiência mais significativa. Mas a moda, que constantemente tenta redefinir sua proposta, também precisa da tecnologia para se superar. Se a própria definição da moda tem muito a ver com o tempo, é esperado que moda e tecnologia fundam-se a fim de trazer um frescor de benefício mútuo.
Hoje, consome-se para criar, não para possuir. Os jovens preferem reblogar conteúdos já existente a comprar produtos novos, preferem gastar dinheiro em produtos hi-tech que em roupas. Procura-se um consumo mais significativo em que se possa ser agente das próprias escolhas.
Dispositivos tecnológicos devem ser uma ferramenta à nossa disposição. A tecnologia está perto de se tornar um acessório para o corpo e para a vida, ajudando-nos a aproveitar o tempo presente e viver as emoções mais intensamente em vez de filtrá-las. As informações ainda precisam ser processadas por um espectro subjetivo e pessoal, o que torna a curadoria um desafio sério. Modificando o uso da tecnologia, os wearables oferecem um sentimento de controle sobre este mundo dominado pela metrificação, criando conteúdo de qualidade através da valorização do sentimento, que, afinal, é mais importante que um monte de dados.
A metrificação está em todos os cantos, fato que gera um comportamento opressivo e restringe a intuição. Sugerindo uma alternativa aos dispositivos tecnológicos comuns, os wearables têm potencial para serem grandes, pois misturam estilo e funcionalidades moldadas pelas emoções, para que tenhamos uma experiência online mais tranquila e com mais humanidade.
À medida que a tecnologia se lança em novas ambições para ser mais intuitiva, há uma movimentação natural em direção à moda. Sendo assim, os wearables precisam ser objetos de desejo, não somente de necessidade (como um produto de moda). Afinal, quem se preocupa com moda não vai usar qualquer coisa, não importa o quão high-tech essa coisa seja.
A tecnologia precisa da moda para evoluir e propor uma experiência mais significativa. Mas a moda, que constantemente tenta redefinir sua proposta, também precisa da tecnologia para se superar. Se a própria definição da moda tem muito a ver com o tempo, é esperado que moda e tecnologia fundam-se a fim de trazer um frescor de benefício mútuo.
Dispositivos tecnológicos devem ser uma ferramenta à nossa disposição. A tecnologia está perto de se tornar um acessório para o corpo e para a vida, ajudando-nos a aproveitar o tempo presente e viver as emoções mais intensamente em vez de filtrá-las. As informações ainda precisam ser processadas por um espectro subjetivo e pessoal, o que torna a curadoria um desafio sério. Modificando o uso da tecnologia, os wearables oferecem um sentimento de controle sobre este mundo dominado pela metrificação, criando conteúdo de qualidade através da valorização do sentimento, que, afinal, é mais importante que um monte de dados.
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