Moda com propósito: valores humanos conectam marca e público

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No mercado em que a palavra de ordem sempre foi passageira, sinais de desgaste começaram a surgir — a moda como conhecíamos chegou ao fim

por Rony Rodrigues prefácio do livro "Moda com propósito" de André Carvalhal capa

Entre todas as mudanças pelas quais passamos na vida, as mais importantes são marcadas por paradoxos. São aqueles momentos em que o desconhecido se apresenta e nos convida a sair da zona de conforto. Algumas são mais radicais do que outras, mas toda mudança traz consigo as próximas páginas da nossa história.

Morar em outra cidade, largar um emprego, declarar seu amor: é preciso coragem. Fácil é se acomodar. Mudanças paradoxais são perigosas justamente por serem irresistíveis. E se toda escolha implica em uma perda, quem conseguiria prender-se a vida toda a paradigmas empoeirados?

Anish Kapoor

Paradoxos são fundamentais para a evolução do ser humano. São fenômenos que, em meio à desconfiança e desconforto, propõem novos ângulos para o que estava nebuloso e abrem as portas do autoconhecimento.

Todo paradoxo é contrário aos princípios que orientam o pensamento humano: desafia a opinião compartilhada pela maioria. Quando nos deparamos com essa oposição ao senso comum, geralmente temos a sensação de falta de sentido, uma aparente ausência de lógica.

É compreensível que seja assim. Uma das verdades mais profundas sobre a vida é também um paradoxo, talvez o maior deles: a eterna inconstância. Você já parou para pensar sobre isso? A única constante na vida é a mudança. “Tudo muda o tempo todo no mundo, como uma onda no mar.”

Nessa maré contemporânea, o futuro parece cada vez mais próximo do presente e sentimos que, a qualquer momento, iremos afogar em mudanças. Elas são tão rápidas! Mergulhar é questão de escolha, mas navegar é preciso.

“A única coisa realmente nova é a direção da correnteza que leva consigo os lugares comuns.” — Raoul Vaneigem

Quando o filósofo Raoul Vaneigem disse isso, ele não estava falando especificamente sobre moda. Mas poderia estar, afinal, efemeridade sempre foi a espinha dorsal desse sistema. Porém, nas últimas décadas, percebemos que acompanhar a grande fábrica de tendências que a indústria da moda se tornou é humanamente impossível. Não só para quem consome, mas também para quem produz.

E o que acontece quando o apetite pela novidade torna-se insustentável? Paradoxo. No mercado em que a palavra de ordem sempre foi passageira, sinais de desgaste começaram a surgir. A moda como conhecíamos chegou ao fim. Mas é claro que isso não significa que ela deixará de existir.

Livro “Moda com propósito” de André Carvalhal

É sobre este novo momento que Andre Carvalhal se debruça neste livro, com riqueza de exemplos, didatismo e inspiração. O autor nos mostra que as mudanças da moda estão muito além das roupas: envolvem todas as esferas da existência. A maneira como nos relacionamos, nossas sombras psicológicas, as escolhas de como nos alimentamos, os esportes que praticamos, música, espiritualidade, meio ambiente… Tudo é cultura, tudo é vida, tudo está mudando.

O planeta vive um processo de autodestruição que só poderá ser freado por meio de um profundo despertar de consciência. Roupas e outros bens de consumo deixarão de ser meros objetos e irão se transformar em sujeitos para construir com as pessoas uma relação mais emocional.

A responsabilidade por esta nova relação é de todos: governo, indústria, mercado e consumidor. Mais importante do que apontar os culpados é perceber-se agente desta realidade. A antiga alienação do “comprar pelo comprar”, “comprar para acumular”, “comprar para ficar na moda” foi substituída por empatia e colaboração. Essas características são mais fortes do que qualquer trend e marcarão a experiência humana nos próximos anos.

Para a engrenagem da moda, o impacto é radical — e isso é positivo; a mudança é otimista.

Para quem produz, implica em uma revisão de todos os conceitos: da escolha de matérias-prima aos modelos que apresentarão os looks; dos temas que inspiram as coleções aos símbolos que serão comunicados. Como Carvalhal defende no livro, “ao reformular os processos, todas as escolhas têm chance de trabalhar em favor da vida”. Será preciso resgatar os valores humanos das empresas: propósito será o principal conector entre marca e público.


Julien Boissou

Mais do que nunca, a moda deverá olhar para as pessoas. Com hábitos, vontades e interesses diversos e misturados, hoje as pessoas são menos rotuláveis e previsíveis. Suas pulsões individuais falam mais alto do que qualquer lifestyle padronizado. É o fim da massificação e das classificações. Expressar a complexidade humana nunca foi tão possível.

Estamos em fase de transição para uma nova era. Para alguns já é uma realidade, para outros ainda vai começar. Enquanto isso, pessoas e marcas se dividirão entre entre velho e novo mundo. Ninguém sabe as respostas, mas todos são livres para buscá-las. Afinal, questionar e duvidar fazem parte deste momento. Mas uma certeza é garantida: nenhuma empresa sobrevive descolada das aspirações contemporâneas. A inovação nunca existirá se estiver desalinhada com os ideais de uma época.

Versão resumida ×

“A única coisa realmente nova é a direção da correnteza que leva consigo os lugares comuns.” Quando o filósofo Raoul Vaneigem disse isso, ele não estava falando especificamente sobre moda. Mas poderia estar, afinal, efemeridade sempre foi a espinha dorsal desse sistema.

Porém, nas últimas décadas, percebemos que acompanhar a grande fábrica de tendências que a indústria da moda se tornou é humanamente impossível. Não só para quem consome, mas também para quem produz.

No mercado em que a palavra de ordem sempre foi passageira, sinais de desgaste começaram a surgir. A moda como conhecíamos chegou ao fim. Mas é claro que isso não significa que ela deixará de existir.

É sobre este novo momento que Andre Carvalhal se debruça neste livro, com riqueza de exemplos, didatismo e inspiração. O autor nos mostra que as mudanças da moda estão muito além das roupas: envolvem todas as esferas da existência. A maneira como nos relacionamos, nossas sombras psicológicas, as escolhas de como nos alimentamos, os esportes que praticamos, música, espiritualidade, meio ambiente… Tudo é cultura, tudo é vida, tudo está mudando.

A antiga alienação do “comprar pelo comprar”, “comprar para acumular”, “comprar para ficar na moda” foi substituída por empatia e colaboração. Essas características são mais fortes do que qualquer trend e marcarão a experiência humana nos próximos anos.

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