Ética como propulsora de um consumo elevado
O consumo de moda vem sendo repensado e revisto. Questões éticas entram em jogo e começam a ser consideradas nas decisões de compra. Quando os males da indústria vem à tona, consumir passa a ser um ato consciente e político.
Nos últimos anos, o mundo vem se deparando com diversos casos de exploração do trabalho. São realidades que remetem diretamente à escravidão em vigor no Brasil no século XIX, envolvendo processos revoltantes como o tráfico de pessoas.
Em abril de 2013, um incêndio em Bangladesh revelou uma fábrica de roupas que, além de não cumprir os requisitos básicos de estrutura, se utilizava de trabalho escravo e infantil. Antes disso, em 2011, confecções da Zara no Brasil foram flagradas em condições precárias e análogas à escravidão. O problema entrou em pauta e deixou claro que o apetite desesperador pelo consumo estava ultrapassando os limites.
Antes prestigiadas, marcas nacionais queimam seus filmes
Em uma recente edição da São Paulo Fashion Week, a Ellus ensaiou um protesto contra a burocracia no mercado têxtil no Brasil, uma tentativa de maquiar as acusações que vinha sofrendo de praticar escravidão em seu processo de confecção. Duramente criticado, o desfile mostrou que a ética na moda não funciona quando escancarada como forma de marketing: ao invés de levantados como bandeira, são valores silenciosos que devem ser intrínsecos ao dia a dia da empresa.
Cori, Luigi Bertolli e Emme também entraram no alvo dos fiscais do Ministério do Trabalho. Seus funcionários trabalhavam mais de 12 horas por dia, de segunda a sábado, recebendo R$4,00 por peça de roupa produzida. A M.Officer recebeu uma multa estimada em 160 mil reais, acusada de oferecer condições precárias aos funcionários de sua confecção em São Paulo.
Boas práticas abrem caminho para o consumo ético
O Greenpeace está liderando o movimento Detox, exigindo dos produtores uma moda menos tóxica ambientalmente. Meio milhão de pessoas estão envolvidas na tarefa de convencer grandes marcas a mudarem suas estratégicas de produção. Nike, Uniqlo e Benetton são algumas das empresas que já assinaram o manifesto, já GAP, American Apparel e Disney ainda não responderam aos pedidos.
Lutando contra o trabalho escravo e pela defesa de direitos sociais e ambientais, a organização Repórter Brasil desenvolveu, juntamente ao Ministério do Trabalho, o app Moda Livre, que cria um ranking de empresas de moda tendo como base as denúncias que elas já receberam. O aplicativo, disponível para e iOs, analisa a postura de cada marca e revela seus dados de uma maneira bastante transparente e honesta. Uma iniciativa exemplar.
Seguindo a mesma política de transparência e sinceridade, uma loja de Londres chamada Honest By propõe um formato surpreendente para a venda de suas peças. No site, é possível analisar em detalhes a descrição do preço e descobrir quanto foi gasto na produção daquela roupa, revelando os custos do tecido, mão de obra, aviamentos, bem como quanto está sendo gerado de lucro para a empresa. Além disso, o catálogo é dividido por roupas orgânicas, veganas, skin friendly ou recicladas: uma rica inspiração para o futuro do varejo.
Aqui no Brasil, o Programa Orgânico Coexis criou o Selo Now, uma certificação orgânica da roupa. O selo não só garante o uso de matérias primas como algodão orgânico ou corantes naturais, como também reconhece que a industrialização da peça foi inspecionada pelo IBD (Instituto Biodinâmico).
Zady é uma loja online inteiramente dedicada à moda ética. Através de uma seleção criteriosa de marcas do mundo todo, a empresa tem como missão oferecer produtos cujas origens sejam transparentes e que ofereçam materiais de qualidade e uma estética “timeless”. Na descrição de cada peça, há uma explicação sobre os motivos que fazem dela especial, junto a uma iconografia de seis selos que ajudam a avaliar as características da roupa.
Mais do que a ideia eco-friendly que imperou há alguns anos no mercado, hoje as marcas estão levando em consideração o repúdio do público por escândalos que degradam a vida humana. O despertar para uma maneira mais evoluída de consumir deverá atingir proporções ainda maiores nos próximos anos.
O consumo de moda vem sendo repensado e revisto. Questões éticas entram em jogo e começam a ser consideradas nas decisões de compra. Quando os males da indústria vem à tona, consumir passa a ser um ato consciente e político.
Nos últimos anos, o mundo vem se deparando com diversos casos de exploração do trabalho. São realidades que remetem diretamente à escravidão em vigor no século 19, envolvendo processos revoltantes como o tráfico de pessoas.
Mais do que a ideia eco-friendly que imperou há alguns anos no mercado, hoje as marcas estão levando em consideração o repúdio do público por escândalos que degradam a vida humana. O despertar para uma maneira mais evoluída de consumir deverá atingir proporções ainda maiores nos próximos anos.
Mas os consumidores não engolem qualquer coisa. A ética na moda não funciona quando escancarada como forma de marketing: são valores silenciosos que devem ser intrínsecos ao dia a dia da empresa, fazendo uma diferença prática e sensível na sociedade.
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