O ampliamento do conceito de gênero na moda
A grande fábrica de tendências que se tornou a indústria da moda vem provocando um cansaço geral nas pessoas. O consumidor não tem tempo de acompanhar as novidades, e os criadores não conseguem gerar ideias novas em espaços tão curtos de tempo. Surge assim um interesse maior por peças clássicas e por uma neutralidade estética, capaz de migrar por diversas estações. Aliado a isso, acontece há um tempo na moda um movimento de inversão de códigos do vestuário masculino e feminino, quebrando normas pré-estabelecidas e antigas noções de gênero. Não se trata mais da apropriação do vestuário masculino pelo feminino ou vice-versa, mas sim de uma moda neutra, liberta de estereótipos, que propõe uma espécie de jogo ilusório interpretado por alguns como unissex.
São produtos — não só roupas — que desconectam o unissex daquela ideia de “básico”, propondo soluções de design que cumprem sua funcionalidade independente do gênero.
Uma figura pública que incorpora esse espírito é a atriz Tilda Swinton. Seu estilo andrógino é admirado pela elegância e pelo minimalismo, mas isso não impede que uma vez ou outra ela surja também deslumbrante em vestidos tradicionalmente femininos. Tilda faz uma bolinha de papel com as expectativas de gênero e a arremessa certeira no cesto de lixo.
A inevitável adaptação do mercado de moda
Novos formatos de negócio começam a surgir no mundo todo, atendendo um público até então carente de roupas que acompanhassem seus modos de pensar a questão do gênero. É o caso da marca americana Wildfang, que se identifica como a primeira loja do mundo direcionada ao público tomboy. Mais do que qualquer interesse capitalista que possa haver na exploração desse nicho, o reconhecimento da existência desse público é motivo de celebração e prenúncio de um novo tempo.
Empresas que oferecem peças customizadas para pessoas não conformadas com seus gêneros estão ganhando visibilidade na indústria da moda, contribuindo para a redefinição dos parâmetros de identidade. Bindle & Keep, uma marca de alfaiataria masculina, passou a adaptar suas coleções para modelagens femininas graças ao empurrãozinho de Rachel Tutera. Ela conta que, quando vestiu roupas de menino pela primeira vez na pré-adolescência, viu no espelho a versão mais autêntica de si mesma. Porém, ser obrigada a comprar nas seções masculinas das lojas lhe causava insegurança: além da experiência humilhante, nada caia bem nas suas proporções. Disposta a mudar essa situação, ela convenceu os donos da Bindle & Keep de que eles estavam desatentos a uma poderosa clientela perdida no mercado.
Ainda que a destruição do conceito de gênero seja uma questão nova ou ainda distante para a maioria da sociedade, o posicionamento vanguardista da moda começa a encontrar expressividade na mídia.
Em 2010, a Ford Models incluiu Casey Lecklord como integrante de seu casting masculino. Apesar de ainda exercer um papel feminino nas fotos, a modelo sinaliza avanço para a permeabilização das fronteiras do gênero.
Na campanha de verão 2014 da Barneys New York, dezessete modelos transgêneros foram clicados por Bruce Weber. As fotos mostram os modelos interagindo entre eles e também com seus familiares e animais de estimação. Nesta coleção, 10% da renda é doada para o National Center for Transgender Equality e para o New York’s LGBT Community Center.
Em 2014, Conchita Wurst superou todas as estranhezas e preconceitos e venceu o Eurovision Song Contest, um show de talentos com alcance mainstream na Europa. Sua aparência feminina associada à barba chocou o público em um primeiro momento, mas sua vitória no Eurovision reflete a aceitação da mistura de gêneros incorporada por Conchita.
Yanis Marshall, Arnaud & Mehdi formam um trio de dançarinos que chegaram à final da edição 2014 do programa Britain’s Got Talent. De salto alto, eles se apropriam magistralmente — e com todo direito — de coreografias tradicionalmente executadas por mulheres.
2014, o ano trans
O gênero nunca foi tão debatido e estudado. Pela primeira vez na história, uma pessoa transgênera esteve na capa da revista Time, em junho de 2014: Laverne Cox, atriz conhecida por seu papel no seriado Orange Is The New Black. Sua atuação impecável também fez dela a primeira transgender indicada ao prêmio Emmy.
O bósnio Andrej Pejic ficou mundialmente conhecido por transitar entre passarelas femininas e masculinas, tornando-se um dos principais representantes da moda andrógina. Recentemente, declarou sua redesignação sexual e passou a se chamar Andreja.
Seja unissex, no-gender ou gender blender, a definição é apenas protocolo. Os pensamentos preconceituosos de uma esmagadora maioria estão começando a diminuir ao passo que a cultura contemporânea reconhece a urgência de uma nova consciência. Nos próximos anos, o conceito de gênero será gradualmente destruído.
Acontece há um tempo na moda um movimento de inversão de códigos do vestuário masculino e feminino, quebrando normas pré-estabelecidas e antigas noções de gênero. Não se trata mais da apropriação do vestuário masculino pelo feminino ou vice-versa, mas sim de uma moda neutra, liberta de estereótipos, que propõe uma espécie de jogo ilusório interpretado por alguns como unissex.
Novos formatos de negócio começam a surgir no mundo todo, atendendo um público até então carente de roupas que acompanhassem seus modos de pensar a questão do gênero. Ainda que o ampliamento do conceito de gênero seja uma questão nova ou ainda distante para a maioria da sociedade, o posicionamento vanguardista da moda começa a encontrar expressividade na mídia: modelos transexuais, modelos femininas em castings masculinos, a primeira pessoa trangênera a sair na capa da revista Time.
Seja unissex, no-gender ou gender blender, a definição é apenas protocolo. Os pensamentos preconceituosos de uma esmagadora maioria estão começando a diminuir ao passo que a cultura contemporânea reconhece a urgência de uma nova consciência. Nos próximos anos, o conceito de gênero será gradualmente destruído.
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