Lowsumerism e a busca do verdadeiro eu
Estamos sempre nos reconstruindo como indivíduos e sociedade. Assim funciona com as correntes estéticas da arte, por exemplo: uma novidade surge para negar a corrente anterior, sem nunca deixar de esconder que precisou desta corrente para nascer. Vem o Impressionismo para que se vá o Realismo, o Renascimento ilumina o período medieval. O mesmo aconteceu com o capitalismo, que se consolidou através do mercantilismo para culminar na Revolução Industrial e, a partir daí, não parou de evoluir.
Desde então, não se parou de produzir e a demanda não parou de crescer. O engenho humano unido ao sistema capitalista oferecia à sociedade novidades para viver cada vez melhor. O mantra dominante é de que o século XX apresentou mais evolução do que toda a história da humanidade, e que consumindo segue-se em direção ao céu. A geração Baby Boomer, nascida no período após a Segunda Guerra Mundial, foi uma seguidora fiel do American Dream nos Estados Unidos. Para ela, a função do trabalho era ganhar dinheiro suficiente para desfrutar da comodidade que o sistema de produção oferecia. Este pensamento acabou se disseminando pelo mundo.
O desejo de consumir não se reduzia e a propaganda instigava o desejo do consumidor. Você quer ser uma mulher feliz? Compre essa máquina de lavar que sua vida será maravilhosa! Quer ser um homem poderoso e charmoso? Fume nosso cigarro! Insatisfeito, o ser humano, que não sabia o verdadeiro motivo de sua insatisfação, continuou a comprar para alcançar a felicidade plena.
Este consumo impulsionado pela propaganda ficou cada vez mais alicerçado na questão de pertencimento. De acordo com a Teoria da Necessidade de Abraham Maslow, as necessidades mais básicas, como comer e dormir, devem ser primeiramente satisfeitas para que o ser humano possa prestar atenção em suas necessidades psicológicas (o que inclui autoestima e conquista do respeito dos outros). E, assim, acreditando nas propagandas, cremos também que só seríamos admirados e amados se tivéssemos a novidade da estação. Mas será mesmo?
O despertar da consciência
O fato é que a propaganda passou a construir um imaginário de sociedade ideal, um “tipo social” que deveria ser perseguido para sermos aceitos e felizes. Sobre felicidade, o filósofo Immanuel Kant afirma em “Crítica da Razão Pura”:
“O conceito de felicidade é de tal modo indeterminado que, embora todos desejem atingí-la, não podem, contudo, afirmar de modo definitivo e consistente o que é que realmente desejam e pretendem.”
O problema é que começamos a acreditar que devemos nos adequar ao padrão da sociedade para nos elevar como indivíduos. Freud teoriza sobre isso muito didaticamente, colocando que embates internos entre o id (instinto), ego e superego, obrigam-nos à adaptação em sociedade. Hoje, as redes sociais potencializam essa necessidade de pertencimento. Há quem sinta frustração por não ter uma quantidade determinada de likes, ou por não poder exibir em suas atualizações o tênis colorido do Pharrel para Adidas.
Que atire a primeira pedra aquele que nunca desejou a moda do momento. Mas quem foi que teve o que desejou e foi feliz para sempre? Começa-se a perceber que a felicidade não está assim tão relacionada ao dinheiro, ou ao fato de ter o produto da marca “x” ou “y”.
Afinal, mesmo países ricos passaram a se alarmar pela epidemia de depressão e ansiedade em suas populações.
Segundo a OMS, em 2030 a depressão pode ser a doença mais comum do mundo. Ora, se a medicina e a indústria estão se desenvolvendo e proporcionando o melhor aos seres humanos, não deveríamos todos (ou pelo menos aqueles que têm acesso a elas) estar satisfeitos? Não é bem assim. A necessidade de aceitação virou o feitiço contra o feiticeiro. O ser humano passou a considerar-se autossuficiente e buscar a lenda do self-made man. De acordo com o hinduísmo, essa é uma faceta de Maya, que cria a ilusão de separabilidade no mundo, nos afasta do conceito de Deus ou da unidade do Universo. Eis aí a origem de muito dos conflitos internos e externos do ser humano.
Um olhar de raio-x
Não precisamos nem ir para reflexões esotéricas para avaliar o real sentido da vida. Basta observar o seu cotidiano: você se acha autossuficiente comendo uma banana? Afinal você só precisou pegá-la da fruteira e consumí-la. Mas quem plantou a banana? E quem a transportou para chegar até você? E se essa simples plantação de banana tiver sido tratada com tantos agrotóxicos a ponto de contaminar o local e acabar com a plantação? Isso também tem a ver com você.
É a partir de reflexões como essa que se do consumo desenfreado que não está satisfazendo plenamente quem o consome. Isso não significa deixar de consumir. A questão é avaliar a qualidade desse consumo: eu preciso disso? Serei mais feliz com isso? Comprar este produto é incentivar impactos negativos no meio ambiente? Esta é a base do Lowsumerism.
A máxima da nova geração que deseja um mundo melhor é o consumo com consciência – consciência que passa a refletir desde a relação do indivíduo com ele mesmo, até alcançar a sociedade. Consumo com consciência é colaborar com o outro e saber que já há recursos suficientes para todos, entender que a separabilidade é apenas uma ilusão. Este tipo de consumo é também, mas não somente, boicotar roupas em lojas que utilizam trabalho escravo, vender e comprar objetos de segunda mão. O Lowsumerism começa a responder estas inquietações.
Agora, resta saber o quanto essa tendência irá impactar a relação não só do consumo, mas entre cada indivíduo. Se você já começou a olhar para dentro e questionar o estilo de vida que leva, sem dúvida suas atitudes externas já estão sendo revistas por uma ótica consciente.
Estamos sempre nos reconstruindo como indivíduos e sociedade. Assim funcionou com o capitalismo, que se consolidou através do mercantilismo para culminar na Revolução Industrial e, a partir daí, não parou de evoluir. O engenho humano unido ao sistema capitalista oferecia à sociedade novidades para viver cada vez melhor. O mantra dominante é de que consumindo segue-se em direção ao céu. A função do trabalho seria ganhar dinheiro suficiente para desfrutar da comodidade que o sistema de produção oferecia.
O desejo de consumir não se reduzia e a propaganda instigava o desejo do consumidor. Insatisfeito, o ser humano, que não sabia o verdadeiro motivo de sua insatisfação, continuou a comprar para alcançar a felicidade plena. Este consumo impulsionado pela propaganda ficou cada vez mais alicerçado na questão de pertencimento. Cremos que só seremos admirados e amados se tivermos a novidade da estação. O problema é que começamos a acreditar que devemos nos adequar ao padrão da sociedade para nos elevar como indivíduos.
Que atire a primeira pedra aquele que nunca desejou a moda do momento. Mas quem foi que teve o que desejou e foi feliz para sempre? Começa-se a perceber que a felicidade não está assim tão relacionada ao dinheiro, ou ao fato de ter o produto da marca “x” ou “y”. Afinal, mesmo países ricos passaram a se alarmar pela epidemia de depressão e ansiedade em suas populações.
Não precisamos nem ir para reflexões esotéricas para avaliar o real sentido da vida. Basta observar o seu cotidiano: você se acha autossuficiente comendo uma banana? Mas quem plantou a banana? E se essa simples plantação de banana tiver sido tratada com tantos agrotóxicos a ponto de contaminar o local e acabar com a plantação? Isso também tem a ver com você.
É a partir de reflexões como essa que se incita o questionamento do consumo desenfreado que não está satisfazendo plenamente quem o consome. Isso não significa deixar de consumir. A questão é avaliar a qualidade desse consumo: eu preciso disso? Serei mais feliz com isso? Comprar este produto é incentivar impactos negativos no meio ambiente? Esta é a base do Lowsumerism.
A máxima da nova geração que deseja um mundo melhor é o consumo com consciência – consciência que passa a refletir desde a relação do indivíduo com ele mesmo, até alcançar a sociedade. Se você já começou a olhar para dentro e questionar o estilo de vida que leva, sem dúvida suas atitudes externas já estão sendo revistas por uma ótica consciente.
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