Seria a publicidade a grande vilã responsável por desencadear o consumismo que está devastando as pessoas e o planeta? Não é bem assim. É possível pensar o consumo, a publicidade e seu significado simbólico por outra perspectiva. Campanhas publicitárias passam a incorporar novos códigos contemporâneos que fazem emergir uma cultura de cuidado: é hora de abordar consumidores com respeito em relação ao novo modo de enxergar o consumo.
O desafio do design contemporâneo é manter a relevância em um mundo cheio. Quem precisa do excesso? Mais do que apenas uma tendência, é uma questão de responsabilidade. Novos criadores propõem inovações que preveem os desejos do futuro e inspiram o mercado tradicional.
Populariza-se o movimento global de comunidades autossuficientes, sustentáveis e em harmonia com o meio ambiente. Além do fator ecológico, essas comunidades integram aspectos econômicos, sociais e culturais por meio de gestão participativa e permacultura. As ecovilas oferecem um modo de vida pós-contemporâneo em que todos trabalham, têm voz e colaboram.
A busca contemporânea por espiritualidade é observada em hábitos cotidianos que promovem, acima de tudo, autoconhecimento. Yoga, meditação, veganismo, medicina integrativa: são práticas distantes de dogmas e próximas do encontro com o “eu” e com um propósito maior. Neste comportamento emergente, observa-se uma subversão na ordem dos “tempos líquidos”. Novos negócios escapam à logica do capitalismo e sugerem um estilo de vida mais inclusivo e menos focado em acúmulo de capital.
Em um cenário onde o consumo de cosméticos ainda é muito pautado pelo marketing, algumas mulheres resolvem assumir uma beleza mais natural e trocar a prateleira de cosméticos por produtos feitos em casa. É um comportamento lowsumer que implica em uma troca de moeda: paga-se pela qualidade e não pela marca. Possibilidades envolvem produtos não testados em animais, receitas veganas ou fórmulas totalmente naturais.
A doença não é mais o foco de estudo, mas o indivíduo em sua totalidade — mente, corpo e espírito. O paciente passa a ser visto como o principal responsável por sua melhora e é conduzido a entender que a cura vem de dentro para fora, e não o contrário. Neste processo, a busca pelo simples e natural ganha força.
O consumismo e a propaganda aumentaram nossas expectativas a ponto de inviabilizar a felicidade e a satisfação. Felizmente, está em atividade um movimento que nos afasta da ilusão e nos aproxima da plenitude.
Até onde vão as similaridades de um filme com uma peça de fast fashion? O excesso de títulos lançados e a rapidez do rodízio nas salas empurra os espectadores a não terem tempo suficiente sequer para digerir os significados da história, pois o próximo imperdível já entra em cartaz. Assistir, ou não, a um filme é um ato profundamente conectado com as emergências do mundo atual.
Em um mundo com menos dinheiro, mas mais tempo e mais acesso ao conhecimento, os valores não permanecem, nem poderiam permanecer, os mesmos. No lugar de bolsas com imensas estampas de marcas e, indiretamente, imensos indicativos de seus preços imensos, passamos a procurar empresas que estampem coisas com as quais realmente nos importamos. O consumo como statement aponta para consumidores que sabem o peso político de tudo que compram.
Consumir menos, para muitas das meninas hoje, é uma forma de se expressar no mundo. De fazer uma parte do trabalho necessário, de construir uma vida com mais propósito e significado. Diferente da experiência de seus pais, possuir não mais traduz sucesso e segurança. A Internet está sendo veículo importante desse processo, através de informações e trocas de experiências e conhecimento entre as meninas.
Como frear o consumismo em uma sociedade dominada por indústrias e marcas? As respostas surgem por meio de microtendências que levam a uma macrovisão da vida contemporânea: todo o nosso zeitgeist tem se voltado ao “menos é mais”. O consumidor, cada vez mais consciente, abraçará as alternativas de novos modelos mercadológicos capazes de atender às suas necessidades e vontades de uma maneira menos nociva.
Para nos libertarmos de um modelo econômico que destrói a natureza e nos afasta de toda e qualquer conexão significativa, temos que nos livrar de suas premissas. A liberdade não reside na escolha de consumo nem de produção, mas na escolha de como fazê-los. O campo social pós-Internet mostra que, ao interagirmos na rede da economia colaborativa, ampliamos as possibilidades de fluxo, não só de informação mas também de recursos.
O recente estudo “The Rise Of Lowsumerism” rejeita os excessos e explora a manifestação de uma nova consciência em relação ao consumo. Consumir deveria ser um ato pensado de acordo com as nossas necessidades, não um substituto para falta de tempo ou afeto. É normal ficar perdido quando se deseja uma mudança tão grande de estilo de vida, por isso aqui estão reunidas algumas sugestões para se colocar em prática uma vida lowsumer.
Foi com o movimento punk, que partia de uma ética que fugia do espectro do consumismo cada vez mais visível na vida em sociedade, que o DIY se difundiu, desde então com crescente relevância. Em essência, tanto o punk quanto o DIY enfatizam uma relação de maior intimidade com nosso consumo pessoal. Cada vez mais conscientes do impacto humano em nosso ethos, existe uma grande parcela de indivíduos que já aderiu, de uma forma ou outra, ao espírito punk presente no método “faça você mesmo”.
Dada a noção de consumo consciente que emerge em nossa sociedade, a tendência é que os produtos admiráveis — ou revolucionários — do futuro próximo serão aqueles capazes de traduzir nosso desejo por objetos duráveis, capazes de desafiar a lógica do descarte. A tecnologia modular questiona a validade do ciclo acelerado de produção e consumo de eletrônicos, barrando os vícios da obsolescência programada.
Acompanhando a liquidez da pós-modernidade, desponta a economia compartilhada. Ao termos acesso a mais coisas, e sendo elas ainda mais descartáveis, criamos uma identidade exponencialmente mais fluída, mais compatível com nós mesmos. Não somos o que temos, mas o que acessamos.
Em um cenário ambiental que demanda por uma mudança geral na mentalidade humana, os critérios do que é “sucesso” mudaram, principalmente no que diz respeito ao que seria uma pessoa ou um negócio bem sucedido. Novos códigos substituem modelos capitalistas, evidenciando a urgência da economia sustentável.
Estamos vivendo um período de êxodo urbano, em busca da nossa essência mais selvagem, do nirvana da vida simples, por um sentido maior e algo que nos torne mais significantes no mundo. O consumo consciente, a permacultura e a rotina distante do caos urbano estão em voga. Afinal, a nossa essência não mora no que podemos comprar, mas sim no que podemos ser.
A forma como a sociedade encara seus deveres em relação ao meio ambiente mostra sinais de que ela está passando por uma importante e complexa transformação. Os anos de repetição do mesmo manual de “cidadão sustentável” estão chegando ao fim. O modelo em que tudo é descartável começa a sair de cena e dá lugar aos projetos de “zero waste”, ou “lixo zero”.
Comprar nunca foi tão fácil, mas as inovações que tanto facilitam nossa vida também acabam por nos deixar mais isolados. Nossos atos de compra e hábitos de consumo são testemunhas de que estamos mais solitários. A volta de hábitos de compra ligados a valores locais e tradicionais tornam-se uma forma de fortalecer o contato tête-à-tête que foi perdido com o advento dos meios digitais. Reestabelecer relações perdidas graças aos frágeis e impessoais laços digitais parece ser um comportamento emergente nos grandes centros urbanos.
O homem foi tirado da posição de centro do desenvolvimento e muitas das relações humanas viraram comerciais. Vivemos mergulhados no consumismo e a individualidade se tornou a nova bandeira de liberdade (ou seria da propaganda?). Por mais que possamos acreditar que evoluímos muito desde os primórdios, a sensação é a de que crescemos muito pouco quando o assunto é consciência. E já está na hora de fazer esse exercício.
Vivemos em um mundo de excessos e nossa educação tem se voltado, cada vez mais, para o hábito de consumir. Antes de darem os primeiros passos, crianças já possuem o quarto decorado, um guarda roupa pensado para todo tipo de evento social, uma agenda tão complexa que a visita de um parente próximo só será possível em três meses. Crescem acreditando que é normal ter tudo e se tornam adultos frustrados. Essa cultura do excesso transformou tudo em vulgaridade.
O consumo de moda vem sendo repensado e revisto. Questões éticas entram em jogo e começam a ser consideradas nas decisões de compra. Quando os males da indústria vem à tona, consumir passa a ser um ato consciente e político. Hoje, as marcas estão levando em consideração o repúdio do público por escândalos que degradam a vida humana. O despertar para uma maneira mais evoluída de consumir deverá atingir proporções ainda maiores nos próximos anos.