O deslocamento da piada nas entrelinhas
Antes restrita a caixas de comentários, a trollagem expandiu seu alcance e se transformou em uma inteligente forma de comunicação. Sua essência é suspender algumas verdades e levantar a dúvida entre o que é sério e o que é zoação.
Smart Trolling é um movimento que provoca o questionamento sobre o que é proposital e o que é acidental. É a ideia de que a graça pode estar somente na sua cabeça: mas, afinal, a piada estava em quem mesmo?
Quando a revista Nova, conhecida por enaltecer o clichê da mulher photoshopada e perfeita, faz uma capa com a humorista Tatá Werneck, paira no ar uma sensação de que algo estacionou nas entrelinhas.
Tatá foge do modelo tradicional de cover girl, por sua aparência e também por sua origem de comediante. Inclusive esse “padrão Nova” sustenta um de seus personagens mais emblemáticos, a celebridade wannabe Roxanne. Fica difícil detectar onde termina a piada e começa a seriedade. São limites permeáveis.
Será que essa capa de revista se trata de uma tirada de sarro? E por parte de quem: da Nova ou de Tatá? Ou seria apenas uma tentativa positiva de romper com os paradigmas estéticos? Ou ainda: estaria a piada no público, que está consumindo esse conteúdo? Temos aqui um indício de Smart Trolling.
Trollando o sistema
No desfile da coleção Inverno 2014/15, a grife Chanel montou um supermercado cenográfico dentro do Grand Palais, em Paris. Em vez de uma glamourosa passarela, as modelos desfilaram por corredores de prateleiras repletas de molhos de tomate, vassouras e vidros de azeite de oliva. Tudo assinado por Karl Lagerfeld, evidentemente.
Ao final do desfile, a pose e elegância dos fashionistas deram lugar ao delírio consumista. Quando uma voz anunciou que os convidados poderiam pegar frutas e legumes da banca de vegetais, os convidados partiram com tudo para cima das prateleiras, levando não só os produtos como também partes da estrutura cenográfica.
Essa reação teria sido prevista por Lagerfeld? É possível que sim, já que na saída do local os seguranças se certificaram de confiscar os produtos saqueados. Trollados no cerne de seus ímpetos consumistas, os fashionistas foram embora se perguntando em que momento a piada virou contra eles mesmos.
Esse deslocamento da piada tem sido frequente no mundo da moda. , modelo-hit do Instagram, prefere não mostrar o lado fancy de seu universo, visto em campanhas importantes como Burberry e Victoria’s Secret. Seu estilo provoca imensa identificação com o público, não é à toa que ela contabiliza quase 7 milhões de seguidores.
Em seu perfil, a moça exibe sua atitude escrachada, não raro rindo do próprio sistema da moda, seja mostrando as pantufas que usa antes de pisar na passarela com saltos monumentais, seja tirando sarro da grafia das marcas para as quais desfila.
Em sua primeira coleção como diretor criativo da Moschino, Jeremy Scott colocou o McDonald’s na passarela. Sucesso instantâneo, a fast-food fashion estava disponível para venda no dia seguinte ao desfile, e as capinhas de celular em forma de batata frita viraram o must da temporada.
Quando a reação esperada por parte do McDonald’s seria um processo judicial, a rede de hambúrgueres manteve o silêncio e não se manifestou. Pouco tempo depois lançou seus próprios cases de batata frita. O troll aqui ganhou mais uma camada: aproveitou-se de uma ideia que já nasceu tirando proveito de si mesma.
Em Smart Trolling, a lógica do “quem ri por último” pode ser infinita.
Antes restrita a caixas de comentários, a trollagem expandiu seu alcance e se transformou em uma inteligente forma de comunicação. Sua essência é suspender algumas verdades e levantar a dúvida entre o que é sério e o que é zoação.
Smart Trolling é um movimento que provoca o questionamento sobre o que é proposital e o que é acidental. É a ideia de que a graça pode estar somente na sua cabeça: mas, afinal, a piada estava em quem mesmo?
Quando a revista Nova, conhecida por enaltecer o clichê da mulher photoshopada e perfeita, faz uma capa com a humorista Tatá Werneck, paira no ar uma sensação de que algo estacionou nas entrelinhas. Tatá foge do modelo tradicional de cover girl: por ser comediante, fica difícil detectar onde termina a piada e começa a seriedade. São limites permeáveis.
Será que essa capa de revista se trata de uma tirada de sarro? E por parte de quem: da Nova ou de Tatá? Ou seria apenas uma tentativa positiva de romper com os paradigmas estéticos? Ou ainda: estaria a piada no público, que está consumindo esse conteúdo? Temos aqui um indício de Smart Trolling, em que a lógica do “quem ri por último” pode ser infinita.
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