Em sua força como registro e contação de nossa cultura, a música é linguagem para compreender comportamentos e cenários brasileiros. Brasis adentro, produções musicais borram as fronteiras entre o que é tradição e o que é vanguarda. Expressões artísticas brasileiras que estão além do óbvio social e geográfico aproximam mundos que não se conhecem. O som faz sentirmos na pele a potência da descentralização.
Como saber a origem dos alimentos? Como conviver com o diferente? Como praticar a sustentabilidade no cotidiano? Boa parte dessas respostas estão em culturas que aprenderam a se inventar e se expressar de outras formas: aldeias indígenas, populações ribeirinhas, quilombolas, sertões, roças caipiras, interiores híbridos, as pontas do urbano, os centros ignorados. Quando as ditas periferias atingem o comportamento de consumo dos brasileiros, é hora de questionar: quem influencia quem?
Se antes ir a um festival era coisa para aficcionados por bandas e estilos específicos, hoje esses eventos envolvem todo tipo de música e todo tipo de gente, incluindo pessoas que nunca ouviram falar na maior parte das bandas se apresentando. Ir a festivais está na moda. E vivemos não apenas a era dos festivais, mas a era das experiências. Nesse cenário, o Primavera Sound se destaca por focar naquilo que se assumiria ser o mais importante para todos: a música.
Contra à onda de conservadorismo que tem assustado os que acreditavam em avanços do mundo em termos de direitos humanos, chega ao holofote a Geração Tombamento, uma nova leva de cantoras e cantores cujos trabalhos se unem pela força representativa das principais questões da sociedade civil — raça, gênero e sexualidade. Este grupo de artistas celebra junto aos seus públicos o movimento de “tombar” os padrões do senso comum.
A cultura de massa que expõe nuances de gênero é o contato mais próximo que muitas pessoas têm com seus universos ideais. O pop, com todas as suas indefinições, exime-se da obrigação de possuir um papel social ativo, mas, intencionalmente ou não, acaba por provocar transformações. Quando uma situação é retratada em uma peça de teatro ou em um filme, visitamos lugares psicológicos sem a necessidade de aquilo ser real. Com o gênero acontece o mesmo.
NORMCORE não é uma teoria geracional, nem uma bandeira, nem um fenômeno cultural de larga escala. Não é uma TEORIA nem um MOVIMENTO. NORMCORE é, antes de qualquer outra coisa, uma NOÇÃO. Um sentimento de empatia e uma sutil opinião sobre o que nós humanos estamos vivendo nestes tempos atuais. Posso dizer como um dos participantes da criação deste conceito que, um ano passado o hype do NORMCORE, pouco se compreendeu sobre essa NOÇÃO cultural.
Quando identidade de gênero entra na pauta popular e mercados que movimentam trilhões passam a atentar a essas questões, é natural que a discussão influencie claramente a maneira como as empresas irão posicionar seus produtos e se comunicar daqui pra frente. Ditar a maneira como cada gênero deve se relacionar com o consumo será uma atitude cada vez mais repudiada pelo público, que passa a entender essa divisão como signo de atraso.
A maneira de se analisar influências de comportamento e consumo não segue mais necessariamente a lógica top-down da pirâmide de renda da sociedade. É hora de sair da zona de conforto para ir além da compreensão de segmentos de mercado, faixa de renda ou classe social; é hora de começar a pensar em afinidades e, principalmente, em pessoas. O que antes era uma pirâmide, fez-se um prisma. Unclassed é uma tendência de comportamento em que as pessoas se tornam cada vez mais protagonistas de suas próprias aspirações e não mais buscam se apropriar de ideais vindos das classes sociais mais altas.
Fala-se muito sobre um tal “novo feminismo”, mas não é a primeira vez que este movimento passa por um boom midiático. Desta vez, sua grande aliada é a internet. Propício para a democracia e pluralidade de vozes, o ambiente digital faz com que a mensagem contra o sexismo ecoe da vanguarda até o mainstream, cada vez mais longe e com mais intensidade.
As noções de feminilidade e masculinidade estão sendo questionadas e desconstruídas em todas as áreas, incluindo a moda. O terreno é fértil para a construção de uma cultura de moda que abarque a diversidade. Até então, a maioria dos experimentos envolvendo gênero aconteciam no vestuário feminino, mas hoje o gender blur invade as passarelas e mostra que a moda masculina passa por um rico momento criativo.
Foi com o movimento punk, que partia de uma ética que fugia do espectro do consumismo cada vez mais visível na vida em sociedade, que o DIY se difundiu, desde então com crescente relevância. Em essência, tanto o punk quanto o DIY enfatizam uma relação de maior intimidade com nosso consumo pessoal. Cada vez mais conscientes do impacto humano em nosso ethos, existe uma grande parcela de indivíduos que já aderiu, de uma forma ou outra, ao espírito punk presente no método “faça você mesmo”.
Seriedade e competência não são coisa de adulto. Energia e espontaneidade não são coisa de moleque. Acostume-se: estereótipos de idade não representam o mundo contemporâneo. Na mídia, na moda e na música, adolescentes aparecem não mais como símbolos de inexperiência, mas como ícones personalidade.
No contexto de super-exposição da Internet, é crescente o contra-movimento que vê a impermanência como medida para proteger a privacidade. A informação com curto prazo de validade se torna uma poderosa ferramenta de comunicação, e seu valor é exatamente a evanescência. Quando tudo pode ser trackeado, camuflar-se passa a ser um desejo coletivo que torna valioso qualquer exercício de efemeridade.
Vivemos numa lógica comunicacional que carrega a compressão do máximo de significado em um mínimo de representação simbólica. A comunicação minimalista dos emojis propõe um novo paradigma linguístico. Em um mundo de excessos, comunicar muita coisa não é comunicar em quantidade. A fragmentação da linguagem hoje é tão profunda que uma única imagem pode ser muito mais precisa do que um parágrafo inteiro.
A glorificação das fashion weeks como lançadoras absolutas de tendências cai por terra quando todos parecem beber da mesma fonte de inspiração. A rua evidencia como está desgastada a ideia de que uma tendência vem sempre de cima para baixo — da elite para o popular. Hoje, as inspirações transitam fluidas e podem estar em qualquer lugar.
Foco e contemplação são características pouco presentes nessa geração, que cresceu em um contexto multitasking e tem como comportamento vigente a ausência de linearidade: um reflexo da Internet. Porém, uma crescente minoria se convence de que criatividade e atenção são irmãs siamesas. Hoje, observa-se um contra-movimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida com mais memórias, saúde e dedicação.
A inteligência artificial e os ciborgues são a expressão mais extrema da conciliação entre máquinas e nosso cotidiano. O homem contemporâneo tem alto poder de transformação. Ele é de carne, osso e, se assim desejar, de componentes eletrônicos. Ao contrário do que se pode pensar, o cenário em que vivem os ciborgues não é um clichê prateado futurístico.
Antes restrita a caixas de comentários, a trollagem expandiu seu alcance e se transformou em uma inteligente forma de comunicação. Sua essência é suspender algumas verdades e levantar a dúvida entre o que é sério e o que é zoação. É a ideia de que a graça pode estar somente na sua cabeça: mas, afinal, a piada estava em quem mesmo?