A inevitável adaptação do mercado para o movimento Freegender
Gênero é quem você é, sexualidade é de quem você gosta ou por quem se atraí. Tendo deixado isso claro, é importante entender que gênero ou identidade de gênero não é um conceito binário (homem ou mulher) como nos foi ensinado antigamente, mas sim um conjunto de combinações e negações que levam a desconstrução dessa dicotomia, fazendo surgir diversos rótulos que não cabem nessa estrutura rígida. Freegender é uma das classificações que tentam aumentar esse espectro, assim como agênero, transgênero, intergênero, gênero fluído, genderqueer, andrógeno, entre outros.
A adoção ou não de qualquer um desses rótulos é pessoal e pode variar de indivíduo para indivíduo: é a verdade do gênero com que cada um se identifica e vive. Entretanto, apesar de as discussões acerca dos gêneros não-binários estarem em pauta nos espaços acadêmicos, na mídia, ou no boteco da esquina, a discussão geralmente gira em torno de homem ou mulher. Quando falamos sobre Caitlyn Jenner, Laverne Cox e Chaz Bono, estamos falando de pessoas transgêneras, mas que não deixam de ser binárias, sendo mulheres ou homens. Mas e quanto à pessoa trans não-binária, a que apesar de não se identificar com o corpo com o qual nasceu também não se identifica com o seu direto oposto?
Só essa pequena indagação já mostra a amplitude e a maneira como ainda se tratam as questões de identidade gênero de forma rasa, e como a sociedade ainda invisibiliza milhares de pessoas que não cabem dentro das caixas pré-definidas, trazendo com isso implicações sociais e econômicas para todos nós. E antes de pensar que você não é afetado por essa questão, pense outra vez. Em um mundo globalizado o meu problema é o seu problema, e eventualmente, qualquer pessoa, empresa, ou instituição pública irá se deparar com uma pessoa não-binária, e é então que chega a sua vez de lidar com a questão.
Para o mercado, gênero não-binário importa?
2015 é provavelmente o ano em que mais se falou sobre identidade na história, seja ela sexual, de gênero, racial… Debates sobre esses conceitos questionam até onde ou não podemos flexibilizar e criar novas identidades. Isso se dá, sem dúvidas, devido ao maior acesso à informação, desde vídeos como os da campanha It Gets Better, celebridades como Miley Cyrus se declarando com gênero e sexualidade fluída, até reality shows e seriados tratando do assunto.
Junte a isso uma sociedade globalizada, onde parte dessa identidade é construída a partir do consumo, e temos aí a resposta para a pergunta acima. Sim, identidades de gênero — em especial as não-binárias — são tão importantes para o mercado que poderão estabelecer quais empresas permanecerão relevantes nas próximas décadas. A moda, por exemplo, sendo um dos símbolos mais caros à expressão das identidades, já vem apresentando nas últimas temporadas coleções cada vez menos setorizadas quanto à questão de gênero.
A cada dia, mais pessoas não se consideram necessariamente homens ou mulheres, e estão dispostas a empurrar as barreiras de gênero cada vez mais longe. Mesmo que isso ainda implique em uma dura luta, é inegável que a liberdade vem sendo conquistada passo a passo. Ou seja, quando identidade de gênero entra na pauta popular e mercados que movimentam trilhões passam a atentar a essas questões, é natural que a discussão influencie claramente a maneira como as empresas irão posicionar seus produtos e se comunicar daqui pra frente.
“Algumas pessoas têm me perguntado qual é a utilidade em aumentar as possibilidades de gênero. Eu tendo a responder: possibilidade não é um luxo; é tão crucial como o pão.”
– Judith Butler
Com crescente frequência, lemos notícias sobre pais que deixam seus filhos se vestirem de personagens classificados como do sexo oposto, vídeos que viralizam sobre crianças questionando os motivos de existirem brinquedos para meninos e meninas separadamente. São manifestações que alertam a indústria: de nada adianta rotular seus produtos por gênero. Ditar a maneira como cada gênero deve se relacionar com o consumo será uma atitude cada vez mais repudiada pelo público, que passa a entender essa divisão como signo de atraso. No outro extremo, tentativas de dissipar barreiras serão cada vez mais bem vistas.
A partir de agora, quem decide se tal roupa, eletrônico, jogo, brinquedo, cor, ou o que seja, é destinado a meninos, meninas, nenhum, ou todos, serão os consumidores. E isso não se dá apenas pela questão da identidade de gênero, mas também pelo movimento de igualdade dos gêneros binários já conhecidos, ou seja, a igualdade entre homens e mulheres também tende a um mundo menos dividido.
Parece que caminhamos para um mundo sem diferenciação. Mas não é bem assim. As pessoas continuarão a buscar produtos que estejam de acordo com o que elas acreditam ser coerente com suas identidades, só não querem mais serem obrigadas a se definir por isso. O fato de eu me considerar um homem cisgênero não significa que eu não possa comprar e usar um vestido. E mais, eu não devo ser reprimido ou me sentir oprimido por satisfazer um desejo que a sociedade ainda não considera de acordo com o meu gênero: quem define isso a partir de hoje sou eu.
“Eu fico feliz que em 2015 nós vivemos em um mundo onde meninos podem brincar de ser princesas e meninas podem brincar de ser soldados.”
— Taylor Swift
Apesar de as discussões acerca dos gêneros não-binários estarem em pauta nos espaços acadêmicos, na mídia, ou no boteco da esquina, a discussão geralmente gira em torno de homem ou mulher. Mas e quanto à pessoa trans não-binária, a que apesar de não se identificar com o corpo com o qual nasceu também não se identifica com o seu direto oposto?
Só essa pequena indagação já mostra a amplitude e a maneira como ainda se tratam as questões de identidade gênero de forma rasa, e como a sociedade ainda invisibiliza milhares de pessoas que não cabem dentro das caixas pré-definidas, trazendo com isso implicações sociais e econômicas para todos nós.
2015 é provavelmente o ano em que mais se falou sobre identidade na história, seja ela sexual, de gênero, racial… A cada dia, mais pessoas não se consideram necessariamente homens ou mulheres, e estão dispostas a empurrar as barreiras de gênero cada vez mais longe. Mesmo que isso ainda implique em uma dura luta, é inegável que a liberdade vem sendo conquistada passo a passo.
Ou seja, quando identidade de gênero entra na pauta popular e mercados que movimentam trilhões passam a atentar a essas questões, é natural que a discussão influencie claramente a maneira como as empresas irão posicionar seus produtos e se comunicar daqui pra frente.
Ditar a maneira como cada gênero deve se relacionar com o consumo será uma atitude cada vez mais repudiada pelo público, que passa a entender essa divisão como signo de atraso.
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