Carne, ossos e componentes eletrônicos
Membros biônicos, placas de aço, super poderes tecnológicos… Ao contrário do que se pode pensar, o cenário em que vivem os ciborgues não é um clichê prateado futurístico. O RoboCop dos cinemas é uma versão hiper exagerada de uma realidade corrente. Inclusive, há um bom tempo que organismos são combinados a objetos artificiais. Próteses, órteses, lentes de contato e aparelhos ortodônticos não são considerados bizarros, mas um dedo com entrada USB ainda pode parecer chocante.
Esse choque, entretanto, está cada vez mais perto de se naturalizar. As máquinas já são parte do nosso cotidiano, integrando-se de forma quase simbiótica aos sentidos humanos. Nesse contexto, a inteligência artificial e os ciborgues são a expressão mais extrema dessa conciliação: humano e artificial são um só, harmônicos, indistintos.
A palavra “ciborgue” é proveniente de uma abreviação justaposta das palavras “cybernetic” e “organism”, o que já sugere seu próprio significado: organismo cibernético. Há, porém, discordâncias científicas sobre o que caracterizaria um ciborgue: alguns consideram apenas os seres humanos que tem funções fisiológicas comandadas por dispositivos artificiais, já os pesquisadores Gray, Steven Mentor e Figueroa-Serriera defendem que ciborgue é até mesmo quem teve o funcionamento do organismo alterado por meio de vacina.
Há quem vá ainda mais longe: a Teoria da Mente Estendida sugere que todos — sim, absolutamente todos — os seres humanos seriam naturalmente ciborgues.
Mas em uma coisa há de se convir: o homem contemporâneo tem alto poder de transformação. Ele é de carne, osso e, se assim desejar, de componentes eletrônicos. Tornar-se um ciborgue pode acontecer por necessidade, quando se perde a movimentação dos membros, ou por vontade, que pode ser impulsionada por motivações artísticas ou por filosofias como o transumanismo, que defende o uso da biotecnologia para superar limites humanos.
Para ajudar a digerir a veracidade dessa comunhão, aqui está uma lista de 10 ciborgues contemporâneos, notáveis por suas histórias e pensamentos vanguardistas.
1. Neil Harbisson ouve cores
Criador da Cyborg Foundation e primeiro ciborgue reconhecido por um governo, o artista Neil Harbisson nasceu sem a habilidade de identificar cores. Ele colocou, então, uma antena que permite que o espectro de cores seja convertido em som, o que aperfeiçoou suas técnicas artísticas. Neil já pintou quadros a partir de sons célebres, como discursos de personalidades, o “Für Elise” de Beethoven e até “Baby” do Justin Bieber.
2. Moon Ribas dança ao ritmo de terremotos
Assim como o namorado Neil Harbisson, Moon Ribas é co-fundadora da Cyborg Foundation e incentivadora da arte ciborgue. Ela tem um implante que a torna sensível a abalos sísmicos, que ela usa para guiar a criação suas coreografias de dança. Além disso, Moon também usa brincos-velocímetro que vibram quando percebem a presença de alguém, além de detectar a velocidade exata dela mesma e das pessoas ao seu redor.
3. Rob Spence é cineasta em tempo integral
O cineasta Rob Spence perdeu um dos olhos e resolveu aproveitar a situação para incrementar seu trabalho, implantando uma câmera na cavidade ocular. Sua câmera-olho foi considerada uma das 50 melhores invenções do ano pela revista Time, além de ter filmado cenas do documentário sobre ciborgues Deus Ex.
4. Jason Barnes perdeu o braço e passou a tocar bateria ainda melhor
Jason Barnes já era baterista antes de perder parte do braço em um acidente de trabalho, o que não o fez desistir da música. Uma prótese primitiva permitiu que ele continuasse tocando seu instrumento de forma similiar a que costuma tocar. Foi a segunda prótese, porém, que impressionou o mundo, dotando o músico de habilidades suprahumanas.
5. Atletas paraolímpicos são super-humanos
Muitos dos atletas Paraolímpicos são ciborgues. Não por compaixão eles merecem ser chamados de super herois: suas habilidades inacreditáveis associadas a mecanismos adaptados superam muitos atletas com movimentação plena. O vídeo Meet the Superhumans, feito pelo Channel 4 na época das Paraolimpíadas de 2012, mostra cenas surpreendentes de atletas com cadeiras de rodas adaptadas e próteses nas pernas. Uma nova perspectiva ao sentimento de pena que geralmente ocorre em relação aos deficientes físicos.
6. Juliano Pinto foi ciborgue por um dia na Copa
Juliano Pinto viveu momentos de ciborgue na abertura da Copa do Mundo de 2014. Vestindo um exoesqueleto desenvolvido por uma equipe de cientistas encabeçada pelo brasileiro Miguel Nicolelis, Juliano foi capaz de dar o primeiro chute da Copa, mesmo sendo completamente paraplégico de tronco e membros inferiores. Apesar de funcionar, o exoesqueleto ainda precisa aperfeiçoar sua praticidade para ser usado no dia a dia.
7. Exoesqueleto para soldados
O exoesqueleto HULC (Human Universal Load Carrier) foi desenvolvido pelo professor Homayoon Kazerooni com o objetivo prático de permitir que soldados em batalha consigam carregar pesos de até 90kg a uma velocidade máxima de 16 km/h por longos períodos de tempo. Esse exoesqueleto é diferente do usado por Juliano Pinto porque só é funcional em usuários que movimentem-se sozinhos, uma vez que seu mecanismo é hidráulico.
8. Jerry Jalava tem um pendrive no lugar do dedo
Depois de perder um dedo, Jerry Jalava aceitou a inesperada sugestão médica de substituir seu indicador por uma prótese que tivesse um drive USB de 2GB. O dispositivo ainda não está implantado diretamente em seu corpo, só faz parte do dedo de silicone. Mas há planos para que, em um futuro próximo, Jerry dê mais concretude ao título de “homem pendrive”.
9. Zoe Quinn fez implantes de chip, ímã e não quer parar por aí
Zoe Quinn tem um ímã em um dos dedos e um chip em uma das mãos, que faz o que sua programação mandar, como, por exemplo, interagir com games. Até ela mesma desconhece todas as infinitas possibilidades que esse chip pode oferecer, além do impacto que isso possa ter em seu organismo. Foi a própria Zoe que, depois de muita pesquisa, fez seus implantes. E ela não pretende parar suas intervenções por aí. Para ela, esse tipo de modificação corporal é uma forma de expressar desacordo com as convenções do sistema.
10. Tim Cannon tem um monitorador sob a pele
Assim como Zoe Quinn, a tranformação de Tim Cannon em ciborgue se deu por uma intervenção realizada por ele mesmo, através da implantação do aparelho Cicardia 1.0 sob a pele do antebraço. O dispositivo monitora sinais vitais e é criação de Tim, que também desenvolve softwares na Grindhouse Wetware e se idenfica como biohacker.
Próteses, órteses, lentes de contato e aparelhos ortodônticos não são considerados bizarros, mas um dedo com entrada USB ainda pode parecer chocante. Esse choque, entretanto, está cada vez mais perto de se naturalizar. As máquinas já são parte do nosso cotidiano, integrando-se de forma quase simbiótica aos sentidos humanos. Nesse contexto, a inteligência artificial e os ciborgues são a expressão mais extrema dessa conciliação: humano e artificial são um só, harmônicos, indistintos.
O homem contemporâneo tem alto poder de transformação. Ele é de carne, osso e, se assim desejar, de componentes eletrônicos. Ao contrário do que se pode pensar, o cenário em que vivem os ciborgues não é um clichê prateado futurístico.
Leia no texto integral uma lista de ciborgues contemporâneos, notáveis por suas histórias e pensamentos vanguardistas.
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