Na possibilidade de representar e incluir pessoas que ainda não ocupam o seu merecido lugar em campanhas e projetos, há bastante desafio. Justamente por ser tão desafiador, é também cenário potente para repensar a criatividade no Brasil. Para quem enxerga oportunidade nesse contexto, é fundamental compreender que, mais do que ter um discurso inclusivo, é preciso ter uma prática inclusiva, aproximando-se de pessoas que vivem essas realidades ainda pouco representadas.
Devido ao sexismo, com possibilidade reduzida de crescer e chegar a cargos de tomada de decisão, mulheres encontram uma rota para unir propósito e carreira por meio do do empreendedorismo. Os projetos, empresas e start-ups que elas têm criado carregam enorme potencial de transformação, o que não só gera mudanças socioambientais positivas como aquece a economia.
A inteligência artificial e as máquinas dotadas com esse recurso — robôs, bots, drones, veículos autônomos, membros artificiais e até mesmo seu smartphone — nos convidam a questionar a própria essência do que constitui a vida. Essas máquinas são estranhamente familiares porque nos imitam. Seus recursos são programados com base na nossa visão de mundo e autopercepção, e tudo isso está sendo feito a uma velocidade impressionante, impregnando a cultura e até mesmo os nossos conceitos de beleza e estética.
O primeiro passo para investigação de referências estéticas nacionais é a ampliação dos cenários de estudo — ou seja, o reconhecimento das ruas, favelas, morros, interiores, roças, ribeiras e matas. A resposta aos anseios da sociedade pode estar justamente na redescoberta do que é cotidiano, familiar e ancestral. Sob esta ótica, o que era antes chamado de periférico passa a ser aspiracional.
Roupas e outros bens de consumo deixarão de ser meros objetos e irão se transformar em sujeitos para construir com as pessoas uma relação mais emocional. Mais do que nunca, a moda deverá olhar para as pessoas, hoje menos rotuláveis e previsíveis. As pulsões individuais falam mais alto do que qualquer lifestyle padronizado.
A reprovação veemente de posicionamentos discriminatórios e a comemoração das vitórias de classes oprimidas são comportamentos que iluminam intolerâncias e criam demanda por uma nova forma de noticiar o esporte. Quando há novos parâmetros para a construção de ídolos, a comunicação se empenha em cumprir um papel social relevante.
Os primeiros nativos digitais estão no mercado de trabalho. São jovens que buscam equilíbrio entre vida pessoal e profissional — mas há uma barreira no mercado: a carga horária é a mesma do começo do século XX. Chegamos ao limite do modo de trabalhar que vem se desenvolvendo desde a revolução digital.
Um dos convites da 32ª Bienal de São Paulo é para a desaprendizagem: rever todas as categorias do que é saber, valor, central. Um passeio pelos pavilhões revela onde os artistas foram buscar repertório para seus trabalhos: nos interiores, nas ribeiras, nas plantações. A exposição contempla Brasis, Américas, Áfricas e tantos de nós, que estamos incertos e vivos neste mundo contemporâneo.
A cultura política aumentou e a conscientização dos jovens sobre sua importância é crescente. O túnel dos próximos anos pode ser escuro e longo, mas neste túnel há luzes que para a maioria são imperceptíveis. É hora de começarmos a nos ver em políticos que, de verdade, nos representam.
Ao longo dos últimos anos, vivemos um crescimento exponencial do uso dos meios pelos quais interagimos — e imergimos — em ambientes digitais. O próximo passo dessa evolução pode nos levar a não mais diferenciar em qual destas múltiplas realidades estaremos vivendo.
Em sua força como registro e contação de nossa cultura, a música é linguagem para compreender comportamentos e cenários brasileiros. Brasis adentro, produções musicais borram as fronteiras entre o que é tradição e o que é vanguarda. Expressões artísticas brasileiras que estão além do óbvio social e geográfico aproximam mundos que não se conhecem. O som faz sentirmos na pele a potência da descentralização.
A vulnerabilidade sugerida pelo “nu artístico”, que apresenta o feminino sob uma ótica masculina e castradora, opõe-se ao poder do “nude”, que desafia a norma e reforça o controle da mulher sobre sua própria imagem e sexualidade. Existe valor no selfie criado e compartilhado online. Agora, mais do que nunca, existe a oportunidade de construir a cultura visual do amanhã, sob uma nova perspectiva — a feminina.
Carentes de uma atividade mais livre e significativa e atentos ao novo cenário que se desenha em torno do consumo, profissionais da publicidade passam a adotar uma postura de negação à era dos excessos. Porém, esgotado o consumismo, ao que se pode dedicar a propaganda? A resposta é um duelo entre duas escolas: uma que quer vender mais e outra que quer vender melhor.
Hoje em dia se fala muito sobre identidade de gênero, mas também existem identidades ligadas à classe social e econômica, raça, consumo, nacionalidade, sexualidade e muitas outras. Não existe uma identidade única e sim um quebra-cabeça que acaba por criar o que chamamos de “EU”: diversas identidades que nos segmentam e enquadram. Para emancipar o ser humano é necessário reavaliar tudo aquilo que, muitas vezes, não damos como determinante à construção da identidade.
Inclusão e diversidade deixam de ser desejo de alguns e passam a ser necessidade de todos. Políticas de inclusão, capacitação e empoderamento, juntamente com a explosão do empreendedorismo feminino, fragilizam a barreira invisível do glass ceiling, com a promessa de finalmente estilhaçá-la.
Como saber a origem dos alimentos? Como conviver com o diferente? Como praticar a sustentabilidade no cotidiano? Boa parte dessas respostas estão em culturas que aprenderam a se inventar e se expressar de outras formas: aldeias indígenas, populações ribeirinhas, quilombolas, sertões, roças caipiras, interiores híbridos, as pontas do urbano, os centros ignorados. Quando as ditas periferias atingem o comportamento de consumo dos brasileiros, é hora de questionar: quem influencia quem?
Ídolos mudam de geração para geração. Nesta, chegamos aos digital influencers, que são famosos, às vezes, apenas por ter um corpo bonito ou uma vida invejável. Porém a imagem esgota-se em si mesma, contaminando não só quem a adora, mas também quem a produz. Youtubers e Instagrammers ativistas despontam como novos ídolos, espalhando, além da imagem, mensagem.
Para a artista Marina Abramovic, que sempre desafiou os limites entre corpo e arte, o Brasil é um repositório infinito de ideias, sentidos e sentimentos. No documentário “Espaço Além”, vemos um retrato profundo do país, absolutamente necessário para uma época crítica como a que vivemos. Trata-se um “Brasil interior” que revela a verdadeira vocação de nossa nação: ser um centro da nova espiritualidade e religiosidade mundial.
Códigos sociais representados pelas roupas estão rompidos com a ascenção do não-binarismo de gênero na moda. Mesmo que existam milhas de distância entre a fantasia da passarela e a realidade das lojas, varejistas começam a tomar atitudes para aproximar-se desta tendência. Enquanto a velha indústria procura caminhos, marcas underground e novos designers protagonizam a evolução.
Seria a publicidade a grande vilã responsável por desencadear o consumismo que está devastando as pessoas e o planeta? Não é bem assim. É possível pensar o consumo, a publicidade e seu significado simbólico por outra perspectiva. Campanhas publicitárias passam a incorporar novos códigos contemporâneos que fazem emergir uma cultura de cuidado: é hora de abordar consumidores com respeito em relação ao novo modo de enxergar o consumo.
Estamos em transição para uma nova era, mais afetiva, feminina e orientada pelo sentimento e a intuição. O que os astrólogos chamam de era de Aquário é o mesmo que os economistas chamam de capitalismo consciente. É a era do conhecimento para os filósofos, a era caórdica para os intelectuais e a era digital para os tecnológicos. Humanistas chamam de novo humanismo e varejistas de crise.
Para orientar positivamente a grande mudança planetária que estamos vivendo, esta é a tese: apenas espaço vazio recebe padrões inteira e autenticamente novos para resolvermos a complexidade dos problemas atuais e passarmos a co-criar um mundo novo. O Silêncio Criativo é gerador e arcabouço de ideias. Não há nada mais eficiente do que o Silêncio para o despertar da criatividade e para que o novo possa emergir.
Se antes ir a um festival era coisa para aficcionados por bandas e estilos específicos, hoje esses eventos envolvem todo tipo de música e todo tipo de gente, incluindo pessoas que nunca ouviram falar na maior parte das bandas se apresentando. Ir a festivais está na moda. E vivemos não apenas a era dos festivais, mas a era das experiências. Nesse cenário, o Primavera Sound se destaca por focar naquilo que se assumiria ser o mais importante para todos: a música.
O desafio do design contemporâneo é manter a relevância em um mundo cheio. Quem precisa do excesso? Mais do que apenas uma tendência, é uma questão de responsabilidade. Novos criadores propõem inovações que preveem os desejos do futuro e inspiram o mercado tradicional.
Os abusos sofridos por atores pornô e o público cada vez mais consciente impulsionam o movimento pós-pornô, que mistura arte e política. Vídeos e performances sexualmente explícitos têm como fim não a masturbação, mas a crítica às amarras da sexualidade e à própria indústria pornográfica.
Populariza-se o movimento global de comunidades autossuficientes, sustentáveis e em harmonia com o meio ambiente. Além do fator ecológico, essas comunidades integram aspectos econômicos, sociais e culturais por meio de gestão participativa e permacultura. As ecovilas oferecem um modo de vida pós-contemporâneo em que todos trabalham, têm voz e colaboram.
Contra à onda de conservadorismo que tem assustado os que acreditavam em avanços do mundo em termos de direitos humanos, chega ao holofote a Geração Tombamento, uma nova leva de cantoras e cantores cujos trabalhos se unem pela força representativa das principais questões da sociedade civil — raça, gênero e sexualidade. Este grupo de artistas celebra junto aos seus públicos o movimento de “tombar” os padrões do senso comum.
Entramos na democracia digital e o caminho é sem volta: os governos precisam passar a ver a tecnologia como ponto de partida para todas suas ações. Novas tecnologias e os inovadores por trás delas ressignificam processos e apontam para um amadurecimento democrático, que chega a novas pessoas e de forma profunda e complexa.
A busca contemporânea por espiritualidade é observada em hábitos cotidianos que promovem, acima de tudo, autoconhecimento. Yoga, meditação, veganismo, medicina integrativa: são práticas distantes de dogmas e próximas do encontro com o “eu” e com um propósito maior. Neste comportamento emergente, observa-se uma subversão na ordem dos “tempos líquidos”. Novos negócios escapam à logica do capitalismo e sugerem um estilo de vida mais inclusivo e menos focado em acúmulo de capital.
Em um cenário onde o consumo de cosméticos ainda é muito pautado pelo marketing, algumas mulheres resolvem assumir uma beleza mais natural e trocar a prateleira de cosméticos por produtos feitos em casa. É um comportamento lowsumer que implica em uma troca de moeda: paga-se pela qualidade e não pela marca. Possibilidades envolvem produtos não testados em animais, receitas veganas ou fórmulas totalmente naturais.
Campanhas sexistas têm sido alvo constante de denúncias e maculado a imagem de marcas tradicionais. Cada vez mais, igualdade de gênero é uma questão que impacta nas escolhas de consumo: é hora das marcas ajudarem a libertar as mulheres sem criar novos estereótipos de mulheres-modelo. Mais do que abordar o empoderamento como estratégia publicitária, é preciso abraçar o assunto de um jeito verdadeiro, palpável e honesto.
Na tecno-cultura contemporânea, envelhecem as tecnologias que incorporam valores dualistas e utilizam-se de estereótipos depreciativos. Em seu lugar, brilham experimentações que virtualizam a identidade humana e expandem a multiplicidade das representações. O desenvolvimento biotecnológico enxerga o gênero como uma restrição limitadora para o potencial humano.
A doença não é mais o foco de estudo, mas o indivíduo em sua totalidade — mente, corpo e espírito. O paciente passa a ser visto como o principal responsável por sua melhora e é conduzido a entender que a cura vem de dentro para fora, e não o contrário. Neste processo, a busca pelo simples e natural ganha força.
O consumismo e a propaganda aumentaram nossas expectativas a ponto de inviabilizar a felicidade e a satisfação. Felizmente, está em atividade um movimento que nos afasta da ilusão e nos aproxima da plenitude.
Até onde vão as similaridades de um filme com uma peça de fast fashion? O excesso de títulos lançados e a rapidez do rodízio nas salas empurra os espectadores a não terem tempo suficiente sequer para digerir os significados da história, pois o próximo imperdível já entra em cartaz. Assistir, ou não, a um filme é um ato profundamente conectado com as emergências do mundo atual.
Consumidores complexos e paradoxais estão fazendo as empresas repensarem suas formas de segmentar o mercado. Assim como acontece com o gênero e a faixa etária, a classificação não se limita apenas à classe social ou ao poder econômico. “Desclassificar” é olhar para dentro das pessoas buscando entender suas reais motivações. Só assim será possível agrupá-las: por afinidade.
Vivemos uma sexo-normatividade incapaz de questionar frases prontas, ao estilo “sexo é saúde”. Assexualidade é a condição de quem não sente atração sexual em geral. Porém, a falta de interesse por relações sexuais não impede que os assexuais formem laços afetivos ou românticos com outras pessoas.
Em uma sociedade pré-digital, a diferença estética entre os sexos podia até fazer sentido. Porém, hoje vivemos padrões muito mais complexos de comportamento, que têm reflexos em diversos campos, incluindo a tecnologia. Está por vir uma realidade mais compatível com nós mesmos, que não pode ser categorizada, reflexo da cyber era da desmaterialização.
A cultura de massa que expõe nuances de gênero é o contato mais próximo que muitas pessoas têm com seus universos ideais. O pop, com todas as suas indefinições, exime-se da obrigação de possuir um papel social ativo, mas, intencionalmente ou não, acaba por provocar transformações. Quando uma situação é retratada em uma peça de teatro ou em um filme, visitamos lugares psicológicos sem a necessidade de aquilo ser real. Com o gênero acontece o mesmo.
Em um mundo com menos dinheiro, mas mais tempo e mais acesso ao conhecimento, os valores não permanecem, nem poderiam permanecer, os mesmos. No lugar de bolsas com imensas estampas de marcas e, indiretamente, imensos indicativos de seus preços imensos, passamos a procurar empresas que estampem coisas com as quais realmente nos importamos. O consumo como statement aponta para consumidores que sabem o peso político de tudo que compram.
NORMCORE não é uma teoria geracional, nem uma bandeira, nem um fenômeno cultural de larga escala. Não é uma TEORIA nem um MOVIMENTO. NORMCORE é, antes de qualquer outra coisa, uma NOÇÃO. Um sentimento de empatia e uma sutil opinião sobre o que nós humanos estamos vivendo nestes tempos atuais. Posso dizer como um dos participantes da criação deste conceito que, um ano passado o hype do NORMCORE, pouco se compreendeu sobre essa NOÇÃO cultural.
O que acontece quando as fronteiras demográficas não são mais suficientes para classificar um perfil de consumidor? Como prever comportamentos de uma geração cada vez mais fluída? Para a eficácia de uma metodologia de pesquisa, é preciso enxergar além da hierarquia do “normal”. A norma morreu e, com isso, deixa de fazer sentido a classificação por gênero, idade ou classe social.
Consumir menos, para muitas das meninas hoje, é uma forma de se expressar no mundo. De fazer uma parte do trabalho necessário, de construir uma vida com mais propósito e significado. Diferente da experiência de seus pais, possuir não mais traduz sucesso e segurança. A Internet está sendo veículo importante desse processo, através de informações e trocas de experiências e conhecimento entre as meninas.
Como fenômeno que está sendo produzido e reproduzido o tempo todo, o gênero sempre será relativo, cultural e performático. No gênero binário somos um de dois. No gênero plural, somos um de muitos. Mas, se a pluralidade exponencial e o espiral do ser nos trazem a transformação infinita, transcender é se deixar flutuar do SER para o ESTAR SENDO.
Com a ascenção de pessoas trans na mídia, tem acontecido uma corrente contrária às formas como essa população geralmente era mostrada para a grande massa. Em uma sociedade em que 90% das mulheres trans e travestis estão na prostituição como um lugar condicionado, é muito significativo que as pessoas trans sejam donas de suas próprias narrativas, que representem a si mesmas em séries, novelas e filmes.
Como frear o consumismo em uma sociedade dominada por indústrias e marcas? As respostas surgem por meio de microtendências que levam a uma macrovisão da vida contemporânea: todo o nosso zeitgeist tem se voltado ao “menos é mais”. O consumidor, cada vez mais consciente, abraçará as alternativas de novos modelos mercadológicos capazes de atender às suas necessidades e vontades de uma maneira menos nociva.
Para nos libertarmos de um modelo econômico que destrói a natureza e nos afasta de toda e qualquer conexão significativa, temos que nos livrar de suas premissas. A liberdade não reside na escolha de consumo nem de produção, mas na escolha de como fazê-los. O campo social pós-Internet mostra que, ao interagirmos na rede da economia colaborativa, ampliamos as possibilidades de fluxo, não só de informação mas também de recursos.
Quando identidade de gênero entra na pauta popular e mercados que movimentam trilhões passam a atentar a essas questões, é natural que a discussão influencie claramente a maneira como as empresas irão posicionar seus produtos e se comunicar daqui pra frente. Ditar a maneira como cada gênero deve se relacionar com o consumo será uma atitude cada vez mais repudiada pelo público, que passa a entender essa divisão como signo de atraso.
A maneira de se analisar influências de comportamento e consumo não segue mais necessariamente a lógica top-down da pirâmide de renda da sociedade. É hora de sair da zona de conforto para ir além da compreensão de segmentos de mercado, faixa de renda ou classe social; é hora de começar a pensar em afinidades e, principalmente, em pessoas. O que antes era uma pirâmide, fez-se um prisma. Unclassed é uma tendência de comportamento em que as pessoas se tornam cada vez mais protagonistas de suas próprias aspirações e não mais buscam se apropriar de ideais vindos das classes sociais mais altas.
Fala-se muito sobre um tal “novo feminismo”, mas não é a primeira vez que este movimento passa por um boom midiático. Desta vez, sua grande aliada é a internet. Propício para a democracia e pluralidade de vozes, o ambiente digital faz com que a mensagem contra o sexismo ecoe da vanguarda até o mainstream, cada vez mais longe e com mais intensidade.
As noções de feminilidade e masculinidade estão sendo questionadas e desconstruídas em todas as áreas, incluindo a moda. O terreno é fértil para a construção de uma cultura de moda que abarque a diversidade. Até então, a maioria dos experimentos envolvendo gênero aconteciam no vestuário feminino, mas hoje o gender blur invade as passarelas e mostra que a moda masculina passa por um rico momento criativo.
O recente estudo “The Rise Of Lowsumerism” rejeita os excessos e explora a manifestação de uma nova consciência em relação ao consumo. Consumir deveria ser um ato pensado de acordo com as nossas necessidades, não um substituto para falta de tempo ou afeto. É normal ficar perdido quando se deseja uma mudança tão grande de estilo de vida, por isso aqui estão reunidas algumas sugestões para se colocar em prática uma vida lowsumer.
Foi com o movimento punk, que partia de uma ética que fugia do espectro do consumismo cada vez mais visível na vida em sociedade, que o DIY se difundiu, desde então com crescente relevância. Em essência, tanto o punk quanto o DIY enfatizam uma relação de maior intimidade com nosso consumo pessoal. Cada vez mais conscientes do impacto humano em nosso ethos, existe uma grande parcela de indivíduos que já aderiu, de uma forma ou outra, ao espírito punk presente no método “faça você mesmo”.
Dada a noção de consumo consciente que emerge em nossa sociedade, a tendência é que os produtos admiráveis — ou revolucionários — do futuro próximo serão aqueles capazes de traduzir nosso desejo por objetos duráveis, capazes de desafiar a lógica do descarte. A tecnologia modular questiona a validade do ciclo acelerado de produção e consumo de eletrônicos, barrando os vícios da obsolescência programada.
Acompanhando a liquidez da pós-modernidade, desponta a economia compartilhada. Ao termos acesso a mais coisas, e sendo elas ainda mais descartáveis, criamos uma identidade exponencialmente mais fluída, mais compatível com nós mesmos. Não somos o que temos, mas o que acessamos.
Em um cenário ambiental que demanda por uma mudança geral na mentalidade humana, os critérios do que é “sucesso” mudaram, principalmente no que diz respeito ao que seria uma pessoa ou um negócio bem sucedido. Novos códigos substituem modelos capitalistas, evidenciando a urgência da economia sustentável.
Estamos vivendo um período de êxodo urbano, em busca da nossa essência mais selvagem, do nirvana da vida simples, por um sentido maior e algo que nos torne mais significantes no mundo. O consumo consciente, a permacultura e a rotina distante do caos urbano estão em voga. Afinal, a nossa essência não mora no que podemos comprar, mas sim no que podemos ser.
A forma como a sociedade encara seus deveres em relação ao meio ambiente mostra sinais de que ela está passando por uma importante e complexa transformação. Os anos de repetição do mesmo manual de “cidadão sustentável” estão chegando ao fim. O modelo em que tudo é descartável começa a sair de cena e dá lugar aos projetos de “zero waste”, ou “lixo zero”.
Comprar nunca foi tão fácil, mas as inovações que tanto facilitam nossa vida também acabam por nos deixar mais isolados. Nossos atos de compra e hábitos de consumo são testemunhas de que estamos mais solitários. A volta de hábitos de compra ligados a valores locais e tradicionais tornam-se uma forma de fortalecer o contato tête-à-tête que foi perdido com o advento dos meios digitais. Reestabelecer relações perdidas graças aos frágeis e impessoais laços digitais parece ser um comportamento emergente nos grandes centros urbanos.
O homem foi tirado da posição de centro do desenvolvimento e muitas das relações humanas viraram comerciais. Vivemos mergulhados no consumismo e a individualidade se tornou a nova bandeira de liberdade (ou seria da propaganda?). Por mais que possamos acreditar que evoluímos muito desde os primórdios, a sensação é a de que crescemos muito pouco quando o assunto é consciência. E já está na hora de fazer esse exercício.
Em um mundo dominado pela metrificação, os wearables estão fazendo diferente, criando conteúdo de qualidade através da valorização do sentimento. À medida que a tecnologia se lança em novas ambições para ser mais intuitiva, há uma movimentação natural em direção à moda. A expectativa é de que moda e tecnologia fundam-se a fim de trazer um frescor de benefício mútuo.
Seriedade e competência não são coisa de adulto. Energia e espontaneidade não são coisa de moleque. Acostume-se: estereótipos de idade não representam o mundo contemporâneo. Na mídia, na moda e na música, adolescentes aparecem não mais como símbolos de inexperiência, mas como ícones personalidade.
A interação passa a ser parte fundamental da pornografia: as pessoas querem ser protagonistas, e não apenas voyeurs de suas fantasias. Novas tecnologias estão viabilizando este estreitamento entre fantasia e interatividade, rompendo com o modo como se consome pornô e se encara sexo.
Vivemos em um mundo de excessos e nossa educação tem se voltado, cada vez mais, para o hábito de consumir. Antes de darem os primeiros passos, crianças já possuem o quarto decorado, um guarda roupa pensado para todo tipo de evento social, uma agenda tão complexa que a visita de um parente próximo só será possível em três meses. Crescem acreditando que é normal ter tudo e se tornam adultos frustrados. Essa cultura do excesso transformou tudo em vulgaridade.
Uma nova safra de games tem colocado em xeque o conceito de que que jogos são apenas sobre ganhar pontos, competir e completar missões. Os chamados “dramas interativos” têm um objetivo maior que o entretenimento, fazendo o jogador refletir e expandir sua mente para temas duros, que trazem à tona seu lado mais obscuro.
Peças teatrais inovadoras tem sido responsáveis por reacender o gosto do público por este tipo de entretenimento, fisgando o interesse das pessoas pelo ângulo do teatro imersivo. Tratam-se de peças que fazem o espectador se inserir tão profundamente na ficção que pouco resta da experiência convencional de uma peça. É uma tendência que surge no contrafluxo do conteúdo cultural contemporâneo, oferecido majoritariamente online. Mais do que uma interação entre elenco e plateia, o teatro imersivo dilui as fronteiras entre realidade e fantasia.
No contexto de super-exposição da Internet, é crescente o contra-movimento que vê a impermanência como medida para proteger a privacidade. A informação com curto prazo de validade se torna uma poderosa ferramenta de comunicação, e seu valor é exatamente a evanescência. Quando tudo pode ser trackeado, camuflar-se passa a ser um desejo coletivo que torna valioso qualquer exercício de efemeridade.
Em um mundo acostumado a operar em um ritmo inalcançável, produtos e serviços passam a ter o desafio de reduzir os excessos que cercam seus consumidores, reconhecendo o estresse como o inimigo invisível da vida moderna. O alívio vem em forma de breaks digitais e experiências que dão importância às pausas e ao alívio dos espaços revitalizantes.
Vivemos numa lógica comunicacional que carrega a compressão do máximo de significado em um mínimo de representação simbólica. A comunicação minimalista dos emojis propõe um novo paradigma linguístico. Em um mundo de excessos, comunicar muita coisa não é comunicar em quantidade. A fragmentação da linguagem hoje é tão profunda que uma única imagem pode ser muito mais precisa do que um parágrafo inteiro.
A quietude tem sido vista como medida essencial para resgatar o equilíbrio e a criatividade pessoal, dando novo status ao silêncio. A valorização da meditação na cultura de massa é uma das evidências dessa corrente, que naturalmente passa a influenciar as relações de consumo. O conceito de No Noise Branding prova que, muita vezes, silenciar comunica mais do que falar.
A lógica da infinitude presente na Internet mudou a maneira como a informação é consumida. Há uma quantidade radical de conteúdo ao redor, independente de sua relevância e utilidade. Ver tantas opções escancaradas na sua frente é desesperador. Assim, um esquecimento generalizado coletivo clama por precisão e qualidade da informação. Chegar ao fim de algo pode ser mais libertador do que a infinitude.
A glorificação das fashion weeks como lançadoras absolutas de tendências cai por terra quando todos parecem beber da mesma fonte de inspiração. A rua evidencia como está desgastada a ideia de que uma tendência vem sempre de cima para baixo — da elite para o popular. Hoje, as inspirações transitam fluidas e podem estar em qualquer lugar.
A rapidez das mudanças no comportamento humano torna confuso o conceito de geração e dificulta a estabelecer os cortes de sua linha do tempo. A juventude tem deixado de ser uma inspiração inquestionável, excluindo a idade da pauta contemporânea. Mais do que uma tentativa de inclusão, existe por trás deste fenômeno uma questão mercadológica: este consumidor existe, e há dinheiro para ser feito.
Foco e contemplação são características pouco presentes nessa geração, que cresceu em um contexto multitasking e tem como comportamento vigente a ausência de linearidade: um reflexo da Internet. Porém, uma crescente minoria se convence de que criatividade e atenção são irmãs siamesas. Hoje, observa-se um contra-movimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida com mais memórias, saúde e dedicação.
A desinibição aliada à tecnologia mobile causou a ascenção dos apps sexuais. O ritmo rápido da paquera fez da busca por um parceiro algo parecido com uma ida ao supermercado. Essas brincadeiras compõem uma nova linguagem de conquista, abrindo brechas nas quais a trollagem se infiltra, tornando imperceptíveis as nuances que diferenciam o que é piada e o que é sedução.
Acontece há um tempo na moda um movimento de inversão de códigos do vestuário masculino e feminino, quebrando normas pré-estabelecidas e antigas noções de gênero. Trata-se de uma libertação de estereótipos, uma espécie de jogo ilusório interpretado por alguns como moda unissex. Novos formatos de negócio começam a prestar atenção a um público até então carente de roupas e produtos que acompanhassem seus modos de pensar a questão do gênero.
Seja em filtros de Instagram ou em status editados nas redes sociais, vivemos em um mundo onde a imagem pessoal é lapidada com tamanho esmero que pouco sobra de sua essência verdadeira. Quando todos estão habituados a apresentar a melhor versão de si, reconhecer a imperfeição passa a ser valorizado como prova de autenticidade e auto-confiança. A auto-trollagem é uma forma libertadora de desmistificar o jogo de imagens imaculadas que circulam nas timelines da vida.
A inteligência artificial e os ciborgues são a expressão mais extrema da conciliação entre máquinas e nosso cotidiano. O homem contemporâneo tem alto poder de transformação. Ele é de carne, osso e, se assim desejar, de componentes eletrônicos. Ao contrário do que se pode pensar, o cenário em que vivem os ciborgues não é um clichê prateado futurístico.
O princípio comportamental e estético que caracteriza os tempos digitais se chama Databending. Trata-se da sobreposição de camadas de dados que altera significativamente a forma como a realidade é vista e manipulada. Esse movimento provoca a refletir sobre como a mistura de linguagens e universos gera um mundo mais interessante, exatamente porque ele se encontra na fissura entre o real e o imaginário.
Há alguns anos, marketeiros vem tentando institucionalizar o meme de modo que ele possa ser gerado em agências de publicidade. Viralizar não é tão fácil, mas também não é impossível. Práticas recentes apontam caminhos em que o troll é usado como comunicação, funcionando como um viral cirurgicamente executado. O troll efetivo é aquele que não menospreza a inteligência do público.
Hoje, como nunca antes na história dos avanços tecnológicos, experiências estéticas criadas por máquinas são valorizadas por seu teor artístico. A exportação de elementos imagéticos do universo digital nunca esteve tão presente no plano físico. O termo The New Aesthetic se refere à invasão no mundo real da linguagem visual própria dos meios digitais. Trata-se da maneira como as máquinas veem e entendem o mundo real, e também como o mundo real vê e entende a estética produzida pelas máquinas.
Antes restrita a caixas de comentários, a trollagem expandiu seu alcance e se transformou em uma inteligente forma de comunicação. Sua essência é suspender algumas verdades e levantar a dúvida entre o que é sério e o que é zoação. É a ideia de que a graça pode estar somente na sua cabeça: mas, afinal, a piada estava em quem mesmo?
O consumo de moda vem sendo repensado e revisto. Questões éticas entram em jogo e começam a ser consideradas nas decisões de compra. Quando os males da indústria vem à tona, consumir passa a ser um ato consciente e político. Hoje, as marcas estão levando em consideração o repúdio do público por escândalos que degradam a vida humana. O despertar para uma maneira mais evoluída de consumir deverá atingir proporções ainda maiores nos próximos anos.
Passa a existir um blur entre o que é real e o que é imaginário quando narrativas fictícias podem propor realidades tão convincentes que são capazes de diluir as barreiras entre o verdadeiro e a fantasia. A ficção sublinha o que há de mais importante e, muitas vezes, ressalta as reações humanas em situações e contextos considerados extremos.
Impossível listar todas as referências que definem a estética dos primeiros anos do século XXI, e muito menos eleger a mais marcante. A moda nunca foi tão globalizada, e nunca tantas pessoas em tantos lugares diferentes do mundo se vestiram da mesma maneira. Um dos grandes responsáveis por isso é o fast fashion, que defende exatamente a grande essência da moda: a efemeridade. Mas este cenário já apresenta sinais de desgaste.
A arte que provoca reações avessas aos padrões de belo é importante porque justamente ela é a responsável por quebrar paradigmas e redefinir os rumos da humanidade. Ao longo da História, cada época se escandalizou com alguma manifestação estética. Mas o inaceitável de ontem é o bem aceito de hoje. Atualmente, parece que já se viu de tudo e torna-se mais rara a estética capaz de chocar.
Quando compartilhamos uma foto, um link ou um pensamento nas redes sociais, apresentamos fragmentos daquilo que desejamos que nos defina: existe a necessidade de aceitação. Hoje lidamos com quatro grandes esferas emocionais: a exaltação do ego, a necessidade de auto-afirmação, a sensação de pertencimento e a sensação de obrigação. Com isso, vários sentimentos são desenvolvidos de maneira única e desproporcional: frustração, orgulho, inveja, raiva, arrogância, ansiedade, alegria, curiosidade, etc.